Artemia permaneceu estática onde estava ao ouvir o testemunho do casal. Estavam fracos, porém seguros do que diziam. Os olhos da ruiva fixaram no rosto de Tetsuya ao ouvi-los dizer toda a verdade a respeito do Doppelganger e seus crimes contra seu próprio povo. Artemia prendeu a respiração, aguardando alguma reação vinda do vulpino, assim que o casal terminou de falar. A verdade veio à tona, então, finalmente. Um alívio surgiu no peito da ruiva, que suspirou tristemente ao ouvir o mestiço gritar a todos os pulmões o quanto eram mentirosos. Não era de se esperar menos; Tetsuya ainda permaneceria confuso por algum tempo, por mais que todos lhe contassem a verdade.
Assim que Tetsuya deu vazão ao seu nervosismo, Artemia se aproximou dele, tocando-lhe as mãos. Seu olhar era pesaroso, sua cabeça estava baixa. Ela respirou fundo e começou a falar tudo que já devia ter dito há muito tempo...
- E-eles estão certos, Tets. Um Doppelganger usurpou a forma de seu pai e agia, com a aparência dele, fazendo mal a todos. Seu pai jamais faria mal a você, ou à sua mãe. Ele sempre zelou por você, fazendo de tudo para que você escapasse com vida. Infelizmente, apenas conseguiu salvar um de vocês. M-mas... eu não sabia sobre isso da Yumi. E-ela, então... sua irmã...?
Artemia parecia estar mais surpresa do que nunca, após ter ouvido o relato do casal. Yumi era irmã de Tetsuya?! Eles pareciam estar certos. Ela precisava contar tudo o que sabia também. A ruiva, então, segurou as mãos de Tetsuya firmemente. Seu olhar era puramente honesto, embora estivesse absolutamente triste naquele momento.
- Tudo o que você se lembra a respeito da morte dela... bem, aquele não era seu pai. Era o Doppelganger, disfarçado, querendo exatamente destruir tudo o que Fuyu conquistou. Por favor, me escute! É importante que você saiba de tudo. Vou contar desde o início, tudo que eu sei. Eu já... eu já deveria ter contato antes, mas... mas não consegui... você parecia estar muito raivoso para ouvir qualquer coisa...
A ruiva olhou o casal novamente, fazendo uma pausa profunda para que respirasse fundo. Seus olhos voltaram aos de Tetsuya, reconhecendo o choque e a dor em seu olhar. Sabia que ele a odiaria para sempre, e que não confiaria mais nela. Mas não poderia priva-lo da verdade. Precisaria guardar seus sentimentos, embuti-los em seu peito. Tetsuya precisava saber de tudo.
Artemia mordeu o lábio e começou a falar tudo o que sabia, desde o começo.
- Eu vivia na floresta. Meu pai sumiu, você sabe. Fui procura-lo, e acabei encontrando o Axle, que me salvou de uns lobisomens. Entramos em uma casa abandonada, fugindo da neve intensa. Quando subi no segundo andar... me machuquei, e com meu sangue, libertei o que parecia ser Fuyu, seu pai. Ele estava fraco, mas pelo que dizia, parecia ser ele mesmo. Pelo que Axle disse, tinha a mesma aparência, falava igual e tudo. Então... ele ficou ao nosso lado o tempo todo. Até que encontramos um Leviatã morto e ele pegou o cristal no topo de sua cabeça. Ele deu o cristal para mim, dizendo que aumentaria meus poderes. Mas havia algo estranho...
Ela suspirou e cruzou os braços, ainda olhando fixamente nos olhos dele.
- Estávamos em um bunker subterrâneo no centro da cidade. Um anjo surgiu do nada e Fuyu começou a agir de um jeito estranho! Ele sacou a espada e... bem, a máscara caiu. Aquele não era Fuyu, e sim o Doppelganger. Não sabíamos do que se tratava até ouvir suas ameaças: disse que estava ao nosso lado, justamente para nos separar. Disse que havia nos enganado de propósito! Ele era muito vil...
Mais uma pausa. Artemia agora apertava os punhos; havia descruzado os braços. Então, segurou em suas mãos o cristal em forma de colar, pendurado em seu pescoço. Ele brilhava, naquele momento, em uma luz azul tranquila.
- Então... com a ajuda de Nova, uma pessoa que encontramos no bunker... e com a ajuda desse cristal em minhas mãos... eu soltei uma flecha explosiva no Doppelganger, o matando naquele mesmo segundo. Fuyu finalmente conseguiu se libertar ligeiramente daquela prisão, revelando a verdade: sua alma foi separada em diversos fragmentos, espalhados por aí. Um dos fragmentos encontrava-se na espada que o usurpador sacou naquele instante. Então, ele nos disse o que havia acontecido em seu reinado aqui no inferno. Explicou, também, que dentro daquele cristal estava seu filho, Tetsuya, adormecido durante anos para que escapasse com vida da tirania do Doppelganger.
Artemia apontou o cristal para Tetsuya, para que ele observasse melhor. Haviam algumas lágrimas em seus olhos, que escorriam lentamente por suas bochechas. Ela passou uma mão em seus cabelos, tirando-os da frente de seus olhos. Estava levemente trêmula.
- Axle, eu e o anjo, Ryan, nos oferecemos para entrar no cristal e te tirar de lá. Era tudo que seu pai queria. Então... nós entramos. E vimos tudo. Todos os espelhos lá de dentro mostravam suas lembranças, desde quando você era uma pequena criança, até o dia da morte de sua mãe, onde você via, erroneamente, seu pai a matando. Ficamos no encargo de contar tudo a você assim que estivesse preparado. Ryan saiu do cristal primeiro. Porém, assim que eu e Axle, segurando você no colo, saímos... fomos parar naquele beco sujo onde você nos viu pela primeira vez.
A ruiva enxugou as lágrimas, que escorriam incessantemente em suas bochechas. Ela olhou para baixo, para o cristal.
- Seu pai, Fuyu, se ofereceu de ficar no seu lugar, dentro do cristal. Ele sempre me ajudou. Nos ajudou... – ela suspirou, trêmula. Toda aquela história era mais pesada do que o próprio piso que a sustentava. – Ele sempre esteve aqui para você, e sempre vai estar. Ele me transformou em Succubus para me proteger aqui, no inferno. Ele me ajudou a progredir na minha magia. Eu jurei a ele que te protegeria, ainda que custasse a minha morte. E-eu.. acabei... me apaixonando por você... no meio do caminho... – disse, baixinho, essa última frase, como se a vergonha tivesse tomado conta de sua voz naquele momento.