Artemia Seg Out 24, 2016 5:37 pm
Pendurada em Axle, Artemia o abraçou com o máximo de força que pôde, ainda que soubesse que faria pouca diferença para o reploid. Sentiu seus olhos lacrimejarem facilmente enquanto ele lhe dizia palavras reconfortantes e esperançosas. Ainda assim, sorriu quando o reploid brincou com seu nariz, repetindo o gesto na superfície lisa entre seus olhos, já que ali não havia nada.
- Cuide-se, Axle... volte inteiro, por favor! Não quero ver nenhuma de suas pétalas fora do lugar, tá me ouvindo?!
Disse ela, quando voltou ao chão. Seus pés arderam com o gelo da neve, queimando vorazmente sua pele antes que conseguisse pular para o tablado de madeira em frente à porta da cabana. Observou a estranheza entre as duas figuras de Fuyu e riu de sua metade brincalhona. Apesar de estar saltitando por conta da queimadura e ardência, a ruiva captou a discreta reclamação do reploid acerca de um manto. Com o coração apertado, ela secou mais uma lágrima enquanto o observava caminhar ao longe. Cada vez mais longe...
- Considere isto como um presente, para que não se esqueça de mim. Use-o sempre!
Exclamou alto, devido à distância, estalando os dedos em seguida. Imediatamente, uma longa túnica surgiu no corpo de Axle, o cobrindo por inteiro, da cabeça até o calcanhar: era negra como a própria escuridão; seu tecido era de um algodão firme e grosso, cujas extremidades continham um acabamento refinado de couro também negro. O capuz era largo e espesso, ocultando grande parte de sua cabeça. Um detalhe que talvez o reploid não percebesse de imediato era um pequeno e discreto desenho de uma rosa costurada em ambas as mangas da túnica.
- In aeternum, ab imo corde, venia in hoc signo vinces...
Com alguns giros discretos com os indicadores de suas mãos, a demonesa envolveu o manto com uma antiga magia que ela havia aprendido a manipular, há anos atrás, enquanto projetava seu guardião, Poppy. Axle notaria uma luz terrosa surgir à sua volta e ser completamente absorvida pelo manto, sumindo de vista em seguida.
Artemia, ao longe, sorriu para ele e acenou de volta, adentrando na casa e se esquecendo momentaneamente do constrangimento com Tetsuya, ainda há pouco. Também não fez menção de explicar que a magia aplicada ao manto era uma junção de alquimia com magia arcana, através da manipulação de uma série de elementos para gerar um escudo que o protegeria contra ataques de fogo, lhe rendendo uma defesa de dez pontos. É claro que sua forma blindada não seria inquebrável, mas o encanto o resguardaria em momentos preciosos.
Sentindo-se aliviada em ter usado seus anos de estudo para algo útil, além da sua recente nova capacidade de criar vestimentas ter servido bem nas últimas horas, a ruiva observou Jasor procurar algo pelos armários. Parecia aflito enquanto abria todas as gavetas possíveis, e antes que ela pudesse lhe perguntar o que fazia ali, ele encontrou o que queria: uma grande garrafa de rum completamente selada. Artemia lembrou-se do vício incurável de seu pai, dos momentos em que ela o buscava na cidade para que não se afogasse em sua própria bebedeira...
Em silêncio, ela o observou projetar um fogo na palma de sua mão e sair da cabana, em seguida. Com um estalo, uma ideia veio à cabeça de Artemia – algo que certamente a salvaria do problema de caminhar por toda aquela neve...!
Assim que o barman saiu da casa, não percebeu que a ruiva estava logo atrás. Antes de pisar na neve novamente, ela ergueu as palmas das mãos para baixo e depois para cima, fazendo surgir uma pequena chama verde esmeralda envolta em cada um de seus pés. Hesitante, ela deu o primeiro passo, pisando na neve fofa: como havia esperado, as chamas não se apagaram, permanecendo vivas e crepitantes, a protegendo do gelo a todo instante.
- Ufa, bem melhor. – suspirou.
Imaginava que enquanto sua metade angelical não se pronunciava, ela poderia usar aquelas chamas até resolver o que fazer. Sentindo os ventos gelados, a demonesa projetou rapidamente em seu corpo uma túnica similar à de Axle, porém sem todo o reforço blindado – certamente, repetir o processo a faria esgotar sua pouca mana restante. Era a primeira vez, em tanto tempo, desde que cobrira seu corpo com tanto tecido. Aquilo a fez se sentir estranha, definitivamente.
Ouviu Tetsuya gritar e agir como o mesmo velho ranzinza de sempre. Ela riu, balançando a cabeça negativamente, enquanto corria para alcançar tanto ele, quanto Jasor, mais à frente.
- Não é estranho que justo a gente ficou com o Fuyu rabugento? Por que você tem que parecer tanto com ele, hein, Tets? Podia se parecer mais com o Fuyu brincalhão, ele é mais divertido.
Implicou, rindo e empurrando o raposo para o lado. Mal reparou que o havia chamado justamente pelo apelido carinhoso que lhe dera há algum tempo atrás, quando não havia ainda aquele mundo de complicações entre eles.