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O que aconteceu após o golpe militar de 17 anos atrás...


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Artemia
Jasor Messast
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    Interior da Floresta

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    Mensagem  Artemia Seg Abr 24, 2017 7:24 pm

    - Aqui, querida. Fique com isto. Irá te ajudar a se aquecer.

    A mulher ofereceu a Tetsuya uma capa com um grosso tecido de algodão, que certamente o ajudaria a superar o frio inesperado. Era de um vermelho vivo e intenso e possuía um capuz grande. Parecia estar gasto devido ao tempo e ao uso.

    Ignorando completamente as reações do vulpino, todos naquela sombria casa apenas o observaram quietos, sem ter sequer a preocupação de responder suas questões. O garoto - João - continuava trêmulo de excitação. Ou seria medo?

    - Vamos logo, temos que aproveitar enquanto ainda é dia.

    A voz amarga e robusta do homem ecoou pelas paredes de madeira úmida. O machado com a gosma verde agora pendia em seu ombro largo. A mulher correu até João e o abraçou forte, suas lágrimas se misturando com as dele. Ela beijou o topo de sua cabeça e se ajoelhou, segurando seu rosto com ambas as mãos.

    - João, meu amor. Você agora tem uma irmã para te acompanhar. Esse dia finalmente chegou!
    Não é incrível? Agora vá. Se cuide... e cuide dela.


    Disse, aos prantos de alegria. Levantou-se, secou as lágrimas, e caminhou até Tetsuya. Apesar de seus olhos retratarem uma certa doçura, sua expressão naquela meia-luz lhe pareceria vil o bastante para uma completa desconhecida.

    - Venha. O seu destino lhe chama! Não se preocupe, pois milhares de riquezas te aguardam...

    A mulher esticou uma mão para que Tetsuya a acompanhasse. O homem com o machado saiu pela porta novamente, puxando João pelo braço. A porta estava sugestivamente aberta enquanto todos aguardavam o vulpino sair.

    Enquanto isso, no que parecia ser um litoral distante, Venkar acordou para ver o dia raiar de dentro de uma caverna. Apesar de todas as estátuas e velas próximos ao seu leito, o local lhe pareceria estranhamente aconchegante. Não haviam algemas, tampouco feiticeiros. Apenas o enorme dragão que decidira explorar o lado de fora da caverna.

    Ao sair, a forte luz do sol refletida no mar o incomodaria brevemente. Somente após alguns segundos ele observaria os arredores e notaria que estava completamente cercado por casas, casebres e choupanas de todos os tamanhos, estabelecimentos pequenos, um porto com um píer e um toco de madeira de cerca de três metros logo em frente à sua caverna, na beira do mar.

    Alguém notou sua movimentação, pois imediatamente um som alto de berrante ecoou por toda a pequena vila.

    Em seguida, um alvoroço tomou conta de todos os habitantes: suas roupas eram rudimentares e simplórias; datavam de uma era antiga que Venkar conhecia muito bem. Homens, mulheres, crianças, idosos - todos saíram de seus lares para se acumularem em frente ao dragão.

    Rapidamente, a população se ajoelhou em sinal veneração, entoando sons fervorosos de cânticos sagrados.

    Um homem idoso se destacou entre todos eles. Usava um turbante e possuía uma barba que alcançava seus joelhos trêmulos. Ele se ergueu da reverência e caminhou temerosamente para mais perto de Venkar. O medo era visível em seu olhar  - todas as pessoas continuaram ajoelhadas, porém agora quietas.

    - Venerável dragão dos sete mares! Que sua benevolência nos inunde de bênçãos! Que sua maviosidade nos traga o conhecimento que precisamos. Que sua couraça possa nos servir como envólucro frente aos monstros que abrigam os mares!

    Após uma pausa, o homem se ajoelhou.

    - É com grande honra que viemos lhe receber após tantos dias dentro de seu lar! Contudo... Ó, venerável dragão dos sete mares, esperamos atentamente por sua resposta. Clemência, é tudo que pedimos. Não se vá. Não nos deixe perecer nesta terra de perigos!

    Enquanto Venkar se via em meio à tantas pessoas, Artemia perecia na solidão daquela imensa torre. A antiga demonesa, agora humana, movia-se de um lado para o outro no espaçoso quarto, formulando um plano para sair dali.

    Embora ninguém respondia à porta, as janelas permaneciam abertas e convidativas. Artemia caminhou até uma das janelas e observou que havia outra mais acima, indicando um outro andar. Suspirando, a garota sentou-se novamente na cama e lamentou-se pela situação em que estava, cobrindo-se com o lençol de seda dourada.

    Após alguns segundos, ela pensou "É isso!" e correu novamente até a janela, segurando o lençol.

    Rapidamente, suas mãos começaram a trabalhar em nós firmes, unindo este lençol a outras cobertas espalhadas pela cama. Assim, Artemia trabalhou nos nós e uniu todos os tecidos possíveis até formar uma enorme corda. Após sua conclusão, a ruiva buscou pelo quarto por qualquer objeto médio, mas que fosse pesado o bastante para servir em seu propósito.

    E então encontrou em cima da penteadeira um relógio de mesa de cerca de trinta e cinco centímetros e amarrou em torno dele vários nós do tecido. Rapidamente, a ruiva amarrou em torno de si própria a outra ponta da corda de tecidos e fez questão de testar se estava firme o suficiente.

    Impulsiva como de costume, Artemia subiu no parapeito da janela e lançou o relógio para o alto. Falhou miseravelmente e quase caiu da torre. Persistente, ela continuaria tentando exaustivamente.
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    Mensagem  Venkar Ter Abr 25, 2017 11:23 am

    Após sair, levou uns instantes, piscando os olhos para se acostumar com a intensa luminosidade. A visão o deixou surpreso! Estava no meio de montes de casas e outras construções humanas. Olhou para um lado, depois para outro, não compreendendo porque haviam pessoas morando tão perto... não, ao redor de um lar de dragão.

    Deu alguns passos e logo notou uma haste de madeira logo adiante, talvez fosse usada para sacrifícios ou oferendas? Isto explicaria as velas e estatuetas dentro da caverna. Mas ainda assim não explicava a proximidade das casas... e agora das pessoas que se aglomeravam á sua frente.

    Parou de andar assim que viu toda aquela gente se aproximando, temerosas mas mesmo assim andando e logo se ajoelhavam diante de si. Antes que o idoso se levantasse e pudesse falar, Venkar já começava a formular uma hipótese em sua mente... talvez, essas pessoas venerassem um semelhante que morava na caverna em que apareceu momentos antes... já ouvira histórias assim e portanto preferiu se manter em silêncio, por enquanto.

    Podia sentir quase o cheiro do temor do idoso que andou para mais perto, sem saber muito como agir nesta situação estranha, o dragão apenas esperou ele se calar. Parecia correto em sua suposição, o homem falava de uma maneira que não sobrava muito para ter dúvidas. Estas pessoas o veneravam quase que como a uma divindade, fazendo os olhos de Venkar brilharem levemente.

    Sempre imaginou como seria ser tratado assim, sendo reverenciado e respeitado pela criatura superior que era! Assim que o idoso parou de falar, estufou o peito todo cheio de si desdobrando e abrindo as grandes asas, esperando impressionar todas aquelas pessoas e o seu representante de idade.

    - Talvez eu permaneça... mas ao sair notei uma ausência de oferendas! Sabe o que isso significa?

    Fez uma pausa dramática, estava adorando essa situação toda! E iria aproveitar cada instante, logo voltando a rosnar, de modo severo para o pobre homem. Até aproximou um pouco mais o focinho, mostrando os dentes enormes para causar mais efeito:

    - Suas palavras me agradam, porém não satisfazem minha fome! Só depois de comer é que irei decidir se merecerão a minha bênção e ajuda!

    Bateu com a grossa cauda contra o solo para demonstrar sua impaciência. Logo se sentou, esperando a reação das pessoas.

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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Ter Abr 25, 2017 6:12 pm

    Não aceitou pegar acapa. Queria negar que sentia frio, por orgulho e teimosia. Sentir frio era uma ofensa muito maior que ser confundido com uma mulher, algo que lhe causava muito mais estranheza do que propriamente raiva - talvez fosse algo instintivo, inerente à raça.Suspirou fundo, procurando se acalmar, sentindo o ar frio quase queimar-lhe o nariz.

    -Eu não sou sua irmã. Eu sequer sou mulher. Meus unicos parentes vivos são minha irmã Yume e meu pai, Fuyu. E que diabos destino se refere? Eu não quero, nao preciso de riquezas, só preciso de...de uma pessoa.Digo, de achar uma pessoa. - ele complementou, o rosto levemente ruborizado, ao lembrar novamente da ruiva. Estava preocupado com seu estado e paradeiro.

    Procurando se acalmar, imaginou que talvez, de alguma forma, tivesse mudado de forma como sua irmã fizera algumas vezes antes. Talvez tivesse conseguido ocultar as caudas e orelhas, algo que nunca fizera antes, e agora sentia as consequencias - como o frio. Era algo inimaginavel, absurdo até, sequer pensar que se tornara humano. Ou talvez, fosse algum feitiço lançado contra si, que também afetara a mente daquelas pessoas. Afinal, deveriam estar delirando, nao conseguindo ouvi-lo direito, ou sequer reconhecer seu sexo! Sim, provavelmente era isso. Sua hipotese ia ganhando força, conforme observava as pessoas saindo e deixando a porta aberta. Pobres humanos, estavam à mercê de algum controle mental, de forma análoga à musica na boate; deveria ter paciencia com eles, talvez. Mais calmo, foi caminhando para fora, através da porta.

    -Vocês estão entendendo alguma coisa do que eu digo, afinal de contas?
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    Mensagem  Artemia Ter Abr 25, 2017 7:19 pm

    A mulher hesitou por um instante. Não imaginava que teria a capa recusada, a qual ela lhe ofereceu com tanto bom grado. No entanto, franziu o cenho e olhou para trás, averiguando se João ou o homem estariam ali. Tendo certeza de que ambos não estavam por perto, ela puxou Tetsuya para longe da porta e tocou-lhe os ombros com certa agressividade. Suas mãos eram ainda mais geladas, porém firmes. Seu hálito pútrido poderia ser sentido àquela distância, sussurrado diretamente na direção dos lábios do vulpino.

    - Escute aqui, seu merdinha, eu sei que não é mulher! Mas isso não importa para mim, e sim para João, entendeu?! Tudo que sei é que você e ele devem caminhar pelo Vale dos Imundos agora. E então, o que desejar será concedido pelas Barregãs. Até mesmo encontrar essa tal pessoa a quem se refere. Não vou deixar você, um mero zé ruelas, estragar meus treze anos de planos! Treze anos, maldito seja!

    Enquanto falava, a mulher ficava cada vez mais nervosa e eufórica. Seus olhos praticamente cuspiam fogo quando ela finalmente o soltou e se afastou. Transtornada, ela jogou em cima dele a capa vermelha.

    - Você precisa usar isso quando encontrar elas. Entendeu? E aproveite minha benevolência, pois está frio... e vai ficar cada vez mais.

    Essa foi a única hora em que ela sorriu. Com uma risada demente, ela saiu pela porta afora.

    Enquanto Tetsuya parecia estar cada vez pisando em um buraco mais fundo, Venkar se deliciava com a veneração do povo daquela aldeia. As pessoas tocavam seus narizes ao chão enquanto reverenciavam o grandioso dragão - até mesmo o idoso, que estremecia a cada vozerão que Venkar soltava à sua frente. Completamente apavorado, ele se levantou e manteve a cabeça baixa. Sua expressão era de completa miséria com a cobrança do poderoso dragão.

    - Ó venerável e misericordioso dragão dos sete mares! A última oferenda fornecida foi há três dias atrás, porém traremos em breve uma nova e saborosa para o senhor -


    - Não!

    Gritou um homem, empurrando o idoso para o lado e se ajoelhando perante Venkar. Contudo, apesar de ajoelhado, voltou-se para o idoso, visivelmente transtornado, e disse:

    - Velho Kotros, enlouqueceu? O senhor sabe muito bem o que acontece quando não oferecemos comida para o nosso bondoso deus dragão.


    O velho tocou os braços do homem em súplica.

    - Não faça isso, Dartros! Todos sabemos que a nova oferenda está à caminho...!


    O homem ignorou o clamor do velho Kotros e virou-se para o corpulento dragão.

    - Ó senhor, nosso venerável deus dragão, corajoso defensor de todos os males! Peço humildemente perdão por essa discussão desnecessária. Por favor, aceite de bom grado nossos esforços para ver-te saciado!

    Ao se levantar, o homem acenou com a cabeça. Parecia que tudo estava planejado de alguma forma, pois três homens se levantaram e puxaram o velho Kotros para que ficasse de pé. Dali, eles o carregaram diretamente para a haste de madeira em frente à caverna e o amarraram.

    - Faça as preces, velho!

    Gritou o homem e a multidão foi à loucura; todos se levantaram e bradaram o sacrifício, batendo palmas e sorrindo pelo destino não ter escolhido eles, e sim aquele senhor em prantos...

    Apesar disso, no alto da torre, Artemia tentou cerca de vinte vezes até finalmente acertar o relógio dentro da janela do andar superior. Com um pulo de alegria, a ruiva sentiu suas esperanças se renovarem: rapidamente ela testou a corda de tecidos, puxando com força, para ver se o relógio caía da janela. Sendo sorte ou não, ele não caiu. Artemia ficou de pé no parapeito da janela e começou a escalar.

    "Não olhe para baixo. Não olhe para baixo. Pense em algo bom... pense em algo bom...!"


    E, imediatamente, o sorriso rabugento de Tetsuya veio à sua mente. A garota sentiu seu coração acelerar com a lembrança e aquilo a distraiu em sua subida. A corda de tecidos rasgou e a lançou alguns andares mais abaixo. Pendurada por apenas alguns poucos fios praticamente rasgando, a ruiva, em desespero completo, finalmente olhou para baixo e viu uma outra janela. Sem aguardar nem mais um segundo, ela forçou a corda e escorregou diretamente para o parapeito daquela janela.

    Assim que alcançou a beirada, ela suspirou de alívio. Sabia que aquilo havia sido um golpe de sorte imenso - Artemia escalou ligeiramente o parapeito e se lançou para dentro, caindo com um baque surdo no chão de madeira.

    Ela se encontrava em um quarto vazio tomado por uma grossa camada de poeira e teias de aranha. Artemia precisou coçar os olhos para enxergar melhor naquele breu. Observando todos os cantos do quarto redondo, sua visão periférica captou algo se movendo logo acima de sua cabeça.

    Era uma mulher enforcada em seus próprios cabelos, pendurada em uma viga de madeira do teto. Seus cabelos eram de um dourado muito vivo e seu comprimento, gigantesco - suas mechas davam voltas e mais voltas em seu pescoço e na própria viga.
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    Mensagem  Venkar Qua Abr 26, 2017 10:20 am

    Venkar lambia as mandíbulas em antecipação, satisfeito em como suas palavras causavam o efeito desejado. Finalmente teria a chance de saborear uma jovem virgem, que seu pai havia mencionado ser de um gosto particularmente delicioso, muito diferente do resto das pessoas.

    Voltou a atenção para a discussão entre o idoso e um homem que se adiantou e ajoelhou diante de si, agora sabendo os nomes de dois deles. Acompanhou o que era dito com visível desagrado, balançando a cauda de um lado a outro. Ficou também curioso em saber que oferenda é essa que estaria a caminho.

    Não gostou nada da atitude do homem, de oferecer o idoso miserável como oferenda: que ousadia! Oferecer um traste enrugado e magricela como meio de livrar a pele? Provavelmente a próxima vítima seria sua própria filha ou uma conhecida, e tratou de colocar o pobre velho no caminho. Rosnou baixo, os olhos brilhando levemente em dourado, suas unhas enormes produzindo lascas que se soltavam conforme ele arranhava o piso de pedra abaixo de si.

    Assim que Kotros fora amarrado e a multidão começou a gritaria, muitos deles sorrindo o dragão escancarou a bocarra e rugiu estrondosamente:

    - SILÊNCIO !!!

    Com certeza todos ficavam calados, e rosnou novamente, agora mais baixo, na direção do homem que mandara amarrar Kotros á haste.

    - Solte o idoso, e vocês três, amarrem ele no lugar !!

    Apontando com um dedo provido de garra para Dartros, olhando para os homens que haviam prendido Kotros havia instantes. E rosnava agora para o senhor de idade, visivelmente irritado.

    - Agora, quero que me diga que oferenda é esta que "todos sabem" que está a caminho, e o que realmente ameaça o seu povoado.

    Parecia se acalmar conforme falava com o idoso, Kotros, imaginando em sua pessoa uma fonte de informações sobre o que se passava. Se sentou nas patas traseiras e fechou as imensas asas contra as costas, a posição não mais tão ameaçadora. Mas mantinha um olhar atento á multidão ao redor.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Qua Abr 26, 2017 3:37 pm

    A primeira reação de Tetsuya foi erguer as mãos, pegando nos metacarpos das mãos da mulher. Era algo praticamente instintivo, um reflexo medular que poderia levá-lo a conduzir aquilo pra um Ikkyo - uma tecnica de torção do punho e rendição do oponente usada no Aikido, adaptada ao treino que tivera durante toda a infancia. Ao menos isso - sua memória e treinamento - ainda parecia reter, uma vantagem corporal que o pai e a irmã não possuíam. Mas....não fez nada. Simplesmente checou a força da mulher, tentando tirar suas mãos sem tanto empenho assim. E dissimulou uma irritação, franzindo a testa, o olhar provocativo e desafiador. E memorizava cada palavra e gesto seu, até mesmo o hálito podre da anciã, de uma forma analítica que geralmente não parecia demonstrar.

    -Acredite, mulher...vai ficar muito mais frio do que você pensa...

    E só então realmente tentou conjurar seu gelo, vendo quão ineficaz era. Não era possivel...o que afinal aconteceu consigo!? ficou olhando as proprias mãos, os olhos arregalados de surpresa. Saiu daquele transe, após sua ameaça vazia, quando a capa vermelha atingiu-lhe o rosto. Pegou a capa com a mão direita, arrancando-a de si com força e intempestividade, e gritou:

    -Me diga, o que fizeram comigo!?!


    E seguiu-os em passos largos. Nem mesmo sua magia lhe pertencia mais. Não era tão dependente dela quanto Fuyu, mas ainda assim, tudo parecia indicar que era....de fato um humano comum! Ao contrário de Artemia, jamais experimentara aquela sensação de fragilidade e exposição excessiva. Nunca tivera uma audição tão ruim, movimentos tão lentos, fraqueza ou frio como sentia agora. E sentia-se mais do que nunca ameaçado, pois não poderia contar nem consigo mesmo.
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    Mensagem  Artemia Seg Jun 19, 2017 9:56 am

    Os homens mais fortes do vilarejo não hesitaram em prender Dartros na estaca de madeira próxima ao oceano. O velho Kotros se ajoelhou em frente ao dragão, aos prantos em agradecimento. Dartros gritava à todos os pulmões, vociferando palavrões e maldições até a última geração de cada um que o prendia.

    - Malditos sejam, que pragas caiam sobre vocês! Bastardos, filhos de uma bacante! Me soltem! As Barregãs não trarão o sacrifício à tempo! Devemos manter o tratado! Sabemos o mal que escolheram, porcos impuros! E vocês também, cretinos! Sei dos segredos de cada um daqui! Baetsa, a casada mais prostituta de todas! Deitou-se comigo e com metade dos homens da vila! Sartros, então! É casado, mas já te vi no moinho com o filho do artesão! É isso mesmo! Bando de corruptos impuros! E tem mais...

    Aqueles que o prendiam à estaca se irritavam a cada palavra de Dartros, agora direcionadas também à população que assistia. Aos gritos, uma mulher pegou uma pedra pequena do chão e arremessou na direção dele. O movimento gerou uma inquietação no público, que, sem pestanejar, iniciou uma revolta, lançando pedras atrás de pedras em Dartros, que urrava de dor a cada acerto. A população enraivecida se aglomerou em volta do homem preso à estaca e, em meio à ira, o chutavam e o esmurravam até causarem a perda de sua consciência. Desmaiado, Dartros já não expunha ninguém. Porém, ainda assim, a população não perdoou: continuaram esmurrando seu corpo. Alguém sacou uma faca. Sangue espirrou nas pessoas, que não se importaram e continuaram rasgando sua carne.

    Tudo aconteceu rápido demais para Venkar impedir. A população, que parecia ser de um vilarejo tranquilo e pacato como aquele, lançou-se em uma violência sem tamanho, desmembrando Dartros em poucos minutos. Os sons da carne sendo despedaçada era terrível demais para o velho Kotros, que assistia à tudo estupefato, paralisado pelo horror.

    - Meu nobre... nobre dragão... por favor... me... me acompanhe... explicarei tudo...

    Disse ele, trêmulo, levantando-se aos poucos e caminhando em direção à caverna.

    Em contradição ao horror do vilarejo, Tetsuya havia saído da porta da casa para se ver em uma floresta escura e úmida. Flocos de neve caíam lentamente no solo, deixando-o levemente esbranquiçado. As árvores eram altas e escuras, os galhos pontiagudos revelavam uma folhagem morta pela estação invernal. Desprotegido, o ex vulpino sentiria uma sensação completamente nova: o vento gelado eriçava seus poucos pelos; um calafrio estremeceu todo seu corpo frágil, deixando seus músculos rígidos. A sensação de frio nunca sentida antes era nova e cruel. Mais uma vez, a mulher jogou em seu corpo a capa vermelha, que parecia ser apetitosamente quente e protetora em sua pele gelada.

    - Ótimo que você saiu. Está na hora de ir.

    Comentou o homem, segurando o machado com a gosma verde ainda pingando em sua ponta. O garoto, João, sorriu para Tetsuya.

    - Minha doce irmã! Vamos cumprir o que os deuses traçaram para nós. Está na hora de seguirmos nosso destino...

    E se aproximou, erguendo uma mão para que entrelaçassem os dedos e caminhassem juntos. A mulher se afastou e adentrou na casa novamente, fechando a porta com força. O homem com o machado empurrou Tetsuya para que ele começasse a andar.

    - Vou levar vocês até a ponte. De lá, vocês seguem o rastro até a Casa de Mel. Não adianta fugir, entendeu? Se fugirem, a floresta irá se encarregar de te colocarem no caminho certo... He he he...
    Riu para si mesmo o homem que já começava a caminhar. João seguiu seus passos pela pequena trilha de terra que seguia o fluxo da floresta escura à frente.

    No alto daquela estranha torre, Artemia caminhava de um lado para o outro, procurando ver melhor o rosto da garota morta, pendurada pelos próprios cabelos na viga de madeira do teto.

    - Parece ser recente... ela nem sequer está cheirando...


    Comentou para si mesma, morbidamente. Com um suspiro, a ruiva coçou a cabeça e olhou para baixo, para sua própria roupa: o vestido exacerbado e pomposo poderia ser extremamente útil, caso usado da forma correta. Sem cerimônia, Artemia se despiu, permanecendo apenas com um apertado espartilho branco delineado em fitas douradas de seda e pantalets - uma desconfortável 'calça' com uma incômoda ventilação em suas intimidades.

    Rapidamente, suas mãos trabalharam em criar nós no vestido, deixando-o reto e inteiriço.

    - Bom, lá vai...

    E, traçando um movimento rápido, a ruiva lançou o vestido até as pernas do cadáver e o balançou, puxando-o com força para baixo. Sem estar preocupada em quebrar a viga, Artemia continuou puxando o corpo da loira até ouvir um estalado na madeira, que rachou e partiu ao meio, lançando o cadaver ao chão em um baque surdo.
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    Mensagem  Venkar Seg Jun 19, 2017 10:55 am

    Quando Venkar ordenou para que os três aldeões prendessem Dartros na estaca, não fora para comê-lo, e sim como punição por sugerir o velho ser servido de oferenda no lugar de alguém. Imaginava que depois de o prenderem poderia extrair informações do sujeito.

    Porém o que ocorreu a seguir deixou até mesmo o feroz dragão surpreso. Após poucos instantes não sobrava nada do homem que lhe fosse útil, nem mesmo para comer. Estalou a língua em desgosto, por causa da chance perdida. Mas não faria nada para impedir, o sujeito trouxe a desgraça para si mesmo.

    Voltando a atenção para o velho Kotros, Venkar acenou com a enorme cabeça ornada de chifres e esperou para que o ancião caminhasse até sua caverna, onde entrou após dar uma última olhada para a praça, a multidão ainda agitada ao redor dos restos mortais de Dartros.

    Uma vez dentro da caverna, o grande dragão negro se adiantou passando o corpanzil por sobre o velhote mas sem o ferir, demonstrando não querer lhe fazer mal. Se ajeitou no local inicial onde havia surgido, deixando as velas diante de si e as estatuetas, logo se sentando nas patas traseiras. Por fim falou, sua voz grossa e potente em tom baixo para evitar assustar ainda mais sua "visita".

    - Muito bem, pode começar explicando que oferenda é essa que está a caminho. E o que ela é exatamente? E o que aconteceu agora á pouco é comum? Não lembro de ter presenciado algo parecido nos outros povoados que ...... visitei.

    Tetsuya Kitsune
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Seg Jun 19, 2017 3:33 pm

    - Não se esqueça de deixar a comida pronta para quando voltarmos, mamãezinha. Estou ansioso para vê-la denovo quando voltar...

    Tetsuya disse, semicerrando os olhos, em tom claramente ironico. Aguardou até que a mulher fechasse a porta para finalmente cobrir-se com a capa; até então contivera os tremores causados pelo frio absurdo, orgulhoso demais para vestir a capa na frente da velha. A raiva o aquecia por dentro, os dentes rangendo de ódio e tremendo, de frio e frustração com sua propria impotencia. Como era possivel que humanos fossem tao frageis a ponto de sentir tanto frio com um pouco de neve? De qualquer forma, teria que usar a inteligencia para sair daquela situação. Se era agora humano, faria como humanos faziam: usar a inteligencia, manipulação, oportunidades e dissimulação para atingir seus fins.

    -Então...uh...."irmãozinho"....qual é esse nosso destino? e quem seriam essas...barregãs? como podem conceder nossos desejos? e o que há nessa casa de mel?

    Disse,dando a mão ao garoto. Apesar de ser aparentemente o mais inofensivo entre o trio que acabara de conhecer, desconfiaria até mesmo daquele garoto e sua suposta inocencia naquilo tudo. Com o canto dos olhos, acompanharia também o movimento do homem que o acompanhava. Tentava identificar pequenos detalhes em sua postura; pequenas diferenças em sua marcha, se mancava, se possuia algum lugar doloroso que o fazia compensar com algum movimento antálgico, enfim, qualquer detalhe que pudesse, posteriormente, auxiliá-lo num cenário de necessidade de desarmamento. Observava também os detalhes da floresta, tentando reconhecer alguma parte da vegetação. Tendo feito missões pela horda celestial, conhecia algumas regiões da Terra e mesmo alguns locais no inferno. Nao podia descartar a possibilidade de estar em outro lugar muito longe, em outro país, continente, nao podia sequer ter certeza de que plano estava.
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    Mensagem  Artemia Seg Jun 19, 2017 4:41 pm

    O velho Kotros se ajeitou dentro da caverna, sentando-se em uma pedra ao lado de um pequeno altar cercado de flores e velas. Suas mãos trêmulas pegaram uma estatueta de madeira de dragão e seus dedos acariciaram a superfície com toda calma do mundo.

    - Outros povoados que visitou, venerável dragão? Não entendo. O senhor nasceu aqui!

    Exclamou, confuso, ainda manuseando a pequena estatueta. Seus olhos cansados se ergueram e encararam a enorme faceta de Venkar.

    - Pois, meu venerável senhor, não deixarei com que sua súbita amnésia te deixe só em sua confusão. Hei de te explicar cada detalhe, se for possível.

    E então, após uma longa pausa, o velho pigarreou e observou as paredes rochosas da caverna. Seu olhar perdido percorreu cada detalhe dali até parar novamente no enorme dragão.

    - Há muitos e muitos anos atrás... quando eu ainda era um garoto... vi esta vila nascer ao redor desta caverna. O senhor, meu dragão, chegou subitamente dos céus para impedir com que as Amaldiçoadas tomassem nossa vila. Houve uma guerra. Muitas mortes. As Amaldiçoadas não conseguiram te vencer, meu senhor, mas o senhor tampouco conseguiu mata-las. Porém, a guerra atrapalhou a vida de ambos. O senhor ficou fraco e sem alimento e elas também. Foi feito um tratado, então. O tratado de Bihrma.

    O velho Kotros fez mais uma pausa e colocou a estatueta no chão de novo.

    - O tratado consiste em permitir a paz no vilarejo para o senhor e para as Amaldiçoadas. Todos têm o que precisam. Nada falta. Para cada um foi designado um propósito. As Amaldiçoadas fornecem virgens para serem sacrificadas pelo senhor uma vez ao ano. O senhor permite que sejam enviadas duas crianças para elas uma vez ao ano também. E assim a vida segue...

    Enquanto Kotros detalhava os pormenores da história por trás do vilarejo, Tetsuya se encontrava em meio à uma floresta gelada e escura, cujas folhagens úmidas não causavam ruído algum. O homem com o machado caminhava um pouco mais para trás. Suas mãos eram firmes, seus dedos repletos de hematomas e cortes. Sua roupa não era apropriada para aquela estação - seus braços estavam desprotegidos e suas botas extremamente úmidas. João, em contrapartida, estava completamente agasalhado. Uma touca felpuda caía pelos seus olhos e suas mãos estavam quentes e confortáveis.

    O garoto sorriu frente à todas as questões e continuou caminhando. Após uma pausa, resolveu falar:

    - Minha doce irmãzinha. Não se preocupe com nada, pois está tudo selado. Nosso destino trará muitas riquezas e irá amenizar toda e qualquer disputa neste mundo. Nossa missão é trazer a paz. Assim que chegarmos à Casa de Mel, verá que as Barregãs são dóceis e gentis. Elas lhe darão o aval de pedir qualquer coisa. Esta é a única chance escolher o que quiser nesta vida, minha irmãzinha...

    E conforme caminhavam, a floresta ficava ainda mais gelada e escura. Apenas o casaco com capuz vermelho vivo de Tetsuya parecia se destacar naquele lugar.

    - Se abaixem!

    O homem subitamente sussurrou, forçando Tetsuya e João a se esconderem atrás de um tronco de árvore. Ele próprio se escondeu atrás de uma árvore ao lado, segurando o machado como se fosse atacar algo a qualquer instante.

    - Shhh... estão vindo...

    Sussurrou mais uma vez. Não muito longe dali, sons de passos pesados e pegadas de um corpo invisível se formavam na terra úmida e esbranquiçada. Conforme caminhava, mais uma pegada surgiu e parou, como se observasse o local. Não havia um corpo, apenas as pegadas. O homem segurando o machado tremeu e fechou os olhos, praticamente rezando para que não os vissem.

    Artemia deixou cair o cadáver ao chão, causando um baque enorme. A ruiva rapidamente se ajoelhou e começou a analisar a garota morta à sua frente, procurando pistas em seu vestido ou até mesmo em seu rosto. Não havia nada de espetacular ali, a não ser sua enorme cabeleira dourada presa em tranças em volta de seu pescoço.

    - Por que você fez isso..?

    Perguntou, suspirando. Artemia olhou para o teto mais uma vez, para todo o ambiente, e não viu nada que lhe chamasse atenção. Só que, nesse momento, ela se via em um quarto vazio sem portas e extremamente gelado. A ruiva mexeu mais uma vez na roupagem do cadáver e encontrou algo que despertou seu interesse: um papel dobrado e quebradiço, o qual ela abriu delicadamente e leu:

    "Assim estou. Quem sou?
    Se está assim, quem és?
    No alto, permaneço
    No calor, sinto
    No frio, me vou
    Na morte, me deito."


    - Quê...?


    Procurou por mais informações, mas ainda assim não havia nada mais escrito. Seria aquilo um enigma?
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    Mensagem  Venkar Qua Jun 21, 2017 4:04 pm

    Assim que Kotros terminou de falar, o dragão rosnou, com sua voz potente.

    - Ah é claro, de fato foi algo inesperado, mas garanto-lhe que elas não são mais uma ameaça para meu território. Se elas ousarem não manter o acordo, irão sentir a fúria das minhas chamas!

    Fez uma pequena pausa, esperando não ter assustado demais o velho.

    - Não é amnésia, perguntei para saber se a informação ainda está fresca em sua mente. Deve passar o ocorrido corretamente ás gerações futuras, pois jamais podem se esquecer que devem suas vidas á mim.

    Venkar sabia que estava arriscando, não tinha idéia de quanto tempo poderia participar desta farsa antes de desconfiarem que ele não era o dragão que havia nascido neste lugar. A resposta do ancião quando disse que ele havia nascido na caverna, porém, demonstrava ser perigoso falar sobre seu passado, que com certeza seria muito diferente do que as pessoas já sabiam.

    Mas por enquanto, aproveitaria!

    - Então, me diga como e quem são estas amaldiçoadas, e onde elas vivem. E também o que Dartros quis dizer quando falou "o que acontece" quando não oferecem algo para mim.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Qua Jun 21, 2017 9:20 pm

    - Parece uma missão e tanto, mas o que exatamente é esperado de nós? Certamente algo tão...nobre e com tamanha recompensa exige seu preço?

    Tetsuya ainda possuia um aspecto de extrema desconfiança de tudo aquilo. Imaginava que seres supostamente tão poderosos a ponto de poder conceder qualquer desejo poderiam ter algo a ver com sua transformação. E supos que nada daquilo viria de graça. Nao existe caridade naquele mundo em que nascera. Continuaria tentando extrair informações, quando foi forçado para trás de uma arvores. Era humano, mas retendo suas memórias, não seria dificil aplicar parte do conhecimento marcial que recebera; mesmo fisicamente inferior, poderia usar de pontos de pressão e torções eficazes sem emprego de muita força, como em tecnicas de aikido e ninjutsu - algo que já nao estava usando há tempos. Mas quando segurou o homem prestes a tentar aproveitar da situação, notou como a neve era esmagada pelos pesados passos.

    Sentia-se quase surdo; que absurdo só poder escutar aquele tipo de coisa apenas tão proximo assim! Acostumado à audição aguçada, foi pego de surpresa por mais aquela incapacidade imposta, que só percebia com clareza agora. Sentia o homem tremer de medo, ao segurá-lo para aplicar o golpe - que acabou nao dando seguimento. O que poderia amedrontar tanto um individuo com um machado e um porte fisico daqueles? fosse como fosse, permaneceria em silencio, aguardando o desenvolver daquilo. Respirava de forma superficial, silenciosamente, e procurava aguçar seus deprimidos 5 sentidos, preparando-se para o que viesse. Soltou então o braço do homem, que talvez nem tivesse sentido seu toque, e passou a cobrir a boca de João, para se certificar que nada sairia dali.
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    Mensagem  Artemia Qui Jun 22, 2017 2:14 pm

    Kotros observou Venkar à sua frente. De fato, havia algo de diferente nele. Teria seu sono de alguns dias mudado algo para o prestigioso dragão? Kotros não ousou pensar diferente. Não estava em sua alçada questionar a mudança de seu mestre. Sem pensar duas vezes, o velho jogou-se, ajoelhado ao chão, com o nariz encostado no piso terroso.

    - Ó Venerável e poderoso de sua espécie e de todas as outras que habitam nesse vasto mundo. Por favor, lhe rogo, lhe suplico perdão por ter constatado que o grande senhor possuía amnésia. Longe de mim concluir qualquer coisa sobre sua onipotente presença!

    E, erguendo a cabeça, mas ainda sem ousar encarar seu poderoso mestre, continuou:

    - Todas as nossas vidas dependem de sua proteção. Por favor, não deixe com que meu erro faça com que as temíveis Barregãs despejem ainda mais maldições para a nossa terra!

    Seu corpo estremeceu ao pensar nas Amaldiçoadas.

    - A última maldição lançada por elas aniquilou nosso rebanho e envenenou nossas águas. As árvores morreram e a terra secou. Metade de nossa população definhou com fome e frio, meu grande e ilustríssimo senhor! Se não fosse pela sua chegada, há tantos anos atrás, esta vila já não mais existiria. Não se preocupe, passarei todo o meu conhecimento para o senhor agora, assim me corrija se estiver algo errado!

    Kotros, arriscando se levantar, olhou de solsaio para o dragão, tentando enxergar misericórdia naqueles grandes olhos.

    - As Amaldiçoadas são seres imundos e pútridos, vivem no ponto mais escuro e frio da Floresta Sem Luz. Precisam de crianças para continuarem vivas em suas centenas de anos. Antigamente, elas levavam todas as crianças da vila, após completarem sete invernos. Nunca mais vemos as crianças. Depois do Tratado, lhes são permitidas o envio de duas crianças, apenas, por ano. São escolhidas por meio de um sorteio, e esse ano a família que doará duas crianças se encontra no centro da floresta.

    O velho suspirou e fez uma pausa dramática antes de continuar:

    - Em troca, as Amaldiçoadas lhe garantem uma virgem imaculada para que o senhor saboreie de todas as formas. Todos sabemos de seus planos em semear seu fruto poderoso e embarrigar a garota que lhe é enviada, afim de gerar descendentes. Uma lástima que isso não foi possível até agora, pois todas morreram no processo...

    No centro da floresta, o homem com o machado tremia e suava. Porém, parecia estar preparado para qualquer coisa. Assim que Tetsuya tapou levemente a boca de João, este tremeu assim como seu pai: sua expressão era de completo terror.

    Tomado pelo medo, o garoto não resistiu um gemido fino.

    As pegadas na neve subitamente pararam. João arregalou os olhos, sua respiração ofegante agora entregava o lugar onde eles estavam escondidos. Não parecia haver escapatória. O homem com machado saiu de trás da árvore e gritou:

    - CORRAM!

    Seu berro ecoou pela floresta à tempo de dois seres saírem de sua invisibilidade e se dividirem: um seguiu o homem com o machado, que correu pela direita, e o outro se lançava em Tetsuya e João, pegando o garoto mais jovem pelo colarinho de sua túnica e o jogando para longe.

    Assim que Tetsuya visse o ser à sua frente, definitivamente constataria que aquela não parecia ser a dimensão em que vivia antes - o ser possuía uma galhada enorme de alce, orelhas grandes e peludas; apesar disso, seu rosto era humano, seu torso desnudo mostrava um par de seios femininos. Da cintura para baixo, porém, seu corpo se tornava peludo e patas de alce se destacavam ao invés de pés comuns.

    João, ao ser lançado pelo ser, bateu na árvore. O ser, ao ver Tetsuya, moveu a cabeça para o lado, observando-o com curiosidade. Aproximou-se lentamente, como se o analisasse. Aproximou-se tanto que era possível Tetsuya visualizar os detalhes de seu rosto: os olhos escuros e grandes e sua pele levemente peluda e atípica. Ele ergueu uma mão, quase tocando o topo da cabeça do loiro.

    - Erhri Stunai Sto?

    Sua voz era rouca e fria, e antes que Tetsuya pudesse responder qualquer coisa, João pegou sua mão e o puxou para uma corrida de volta para a trilha:

    - Precisamos ir! Precisamos ir agora, Maria!

    No silêncio da torre, Artemia caminhava de um lado para o outro com o papel na mão.

    "No calor que sinto... no frio, me vou..."

    - Ah!! Sempre fui péssima nessas coisas.

    Exclamou, deslizando da parede até o chão, sentando-se no piso frio de madeira. O gelo do quarto parecia diminuir conforme o sol batia na janela. A ruiva levantou-se e foi até o parapeito observar a paisagem, tão distante dela. Havia um vasto campo verdejante à esquerda, recheado de árvores de diferentes cores, até mesmo vermelhas. Uma cachoeira magnífica resplandecia suas águas refletidas ao sol em um brilho majestoso. Mais árvores coloridas, montanhas e, acima, uma clareira que dava para o oceano. Artemia apertou os olhos para observar melhor: aquelas eram casas? Sim! Casas rústicas próximas ao oceano. Ela tinha certeza!

    Um alívio grande passou pelo coração da garota, que continuou observando a paisagem. Descendo os olhos, ela notou a mudança sutil na natureza: as árvores ficam mais escuras conforme descem pela paisagem. Um riacho parece dividir claramente o território claro do escuro, cujas árvores negras e cadavéricas se estendiam por toda a direita. Um calafrio perpassou pela ruiva, que se debruçou ainda mais no parapeito para ver o restante. Assim que viu, quase caiu.

    Na extrema direita, havia uma montanha escura e alta, e em seu topo, uma torre repleta de gárgulas. Estava longe, muito longe de Artemia, mas ainda assim ela não pôde deixar de temer aquela montanha negra.

    Suspirando, ela se perguntou onde estaria Tetsuya. Quem vivia naquelas casas? E o pior, naquela torre escura e monstruosa?!
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    Mensagem  Venkar Sex Jun 23, 2017 2:42 pm

    O gesto do velho de se jogar no chão de forma miserável não agradou tanto quanto o dragão esperava.

    Gostava de ser venerado e temido, é claro, mas havia algo de errado naquilo tudo. Venkar não tinha conquistado aquela devoção e muito menos os feitos que ouvira, fingir que havia feito algo grandioso não pareceu ser tão bonito quanto imaginou. Pensou que a princípio seria fácil se passar pelo outro que tinha feito tudo isso, mas conforme Kotros contava os detalhes, foi percebendo que não teria mais como continuar com isso. Principalmente agora que descobriu que o dragão original não devorava as virgens entregues... e sim... acasalava com elas! Um absurdo, a diferença de tamanho era imensa.... parou em seu pensamento, se lembrando do amuleto que o permitia mudar de forma.

    O olhar do velho, suplicante e amedrontado, causou ainda mais insatisfação a si próprio. Estreitou os olhos, irritado consigo mesmo, o que podia ser muito bem confundido com raiva ou desagrado com as palavras de Kotros, quando rosnou sua voz saiu em um tom baixo e tentava claramente parecer menos hostil.

    - Muito bem, chega disto.

    Adiantou o corpanzil e esticou o braço até fechar os dedos da garra direita ao redor do corpo do velho, mas sem o apertar.

    - Vamos voar.

    Dito isto seguiu em direção á saida do covil, sobre as três outras patas, mantendo Kotros bem firme em sua garra direita, próxima de seu peito.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Sáb Jun 24, 2017 6:21 pm


    Tetsuya tentou saltar em disparada, mas suas pernas nao tinham a força de outrora para impulsioná-lo por metros. Nao conseguira sequer ganhar 1 metro de distrancia, e o gelo derrapou sob seu pé, mesclado a uma lama por baixo. Acostumado às caudas, não teve o suporte delas para impedir a queda; era também o primeiro "escorregão" que tivera na vida. Com tantas limitações, sentia a frustração de um paraplégico condenado à cama. Mas a frustração logo cessou, voltando à adrenalina da fuga que antes lhe inundava o pensamento. Virou o rosto, apenas para ver o garoto que tentara puxar consigo ser arremessado contra uma árvore. Rapidamente o ex-raposo ergue-se, deparando-se com uma daquelas criaturas. E se espantou com o que vira.

    Longe de ter medo, os olhos azul-gelo e dourado fixaram-se na criatura, observando analiticamente sua estranha mescla, num misto de desconfiança e curiosidade, rapidamente controlando os proprios nervos. Quem era ele para julgar ou condenar hibridos, logo ele? Ainda que sentisse a insegurança estando em um corpo humano, já passara por traumas e terrores suficientes para insensibiliza-lo a quase tudo o que visse. Longe de uma postura hostil ou arredia como antes, Tetsuya notou como aquele ser demonstrava inteligencia, capaz de se comunicar. Quem sabe aquele ser não poderia dar-lhe mais respostas que os outros? Afinal, não conhecia o homem, a velha e mesmo a criança mais do que conhecia o hibrido invisivel. Sequer sabia se eram humanos de verdade.

    Calmamente, o rapaz foi erguendo a mão, ao encontro da mão daquele ser, sua curiosidade movendo-o para tocar-lhe. A boca se entreabriu para tentar dizer algo, mas bruscamente foi puxado pelo "irmão", novamente se desequilibrando no gelo, forçosamente sendo puxado aos tropeços pelo garoto.

    -Você viu? ....aquilo...digo, ela.... tentou se comunicar....deixe-me tentar...ugh...

    Incapaz ainda de oferecer alguma resistencia aos puxões, por nao ter reestabelecido completamente o equilibrio, era puxado pelo garoto. Olhou com o canto dos olhos em direção à criatura. Os unicos idiomas que conhecia era o inférlico e o angelical; arriscou uma mesma mensagem, em ambas as linguas; uma mensagem como "o que está acontecendo?"

    -غפעغ׆כת ךאע׆אפ׆? Qᵫriëllum et lùmniel?
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    Mensagem  Artemia Seg Jul 03, 2017 6:22 pm

    No alto da torre, Artemia temia pela sua segurança.

    Cada vez mais calafrios surgiam em seu corpo. Seu rosto pálido e perplexo pelo frio observava o cadáver à sua frente, buscando mais lógica nos fatos. A loira à sua frente havia se enforcado. Por que? Não sabia o motivo, mas entendia que aquele cadáver logo se tornaria intragável às suas narinas. E, naquele pequeno quarto escuro e gelado, Artemia decidira que ela deveria prevalecer, já que estava viva. E, para isso, deveria agir.

    Rapidamente, a ruiva se ajoelhou em frente ao corpo. Após uma longa observação, começou a despir a garota: retirou o vestido aos poucos, lentamente. Seu coração estava disparado, jamais havia despido um cadáver antes. E, no entanto, o frio congelante do quarto escuro a incomodava cada vez mais...

    Os membros extremamente rígidos e gelados da garota exigiram um esforço ainda maior de Artemia, que terminou de despir a loira praticamente sem fôlego, a deixando apenas vestida com uma camisola fina. Após pensar pelo menos por quase trinta segundos, a ruiva levantou-se e vestiu a roupa do cadáver. Era um vestido pomposo de um rosa luminoso, gelado como a dona.

    - Droga...

    Com um suspiro audível, Artemia pegou os tornozelos da garota e começou a arrastar seu corpo até o pé da janela. Assim que alcançou, segurou seus braços e levantou seu tronco, abraçando-o até que o cadáver ficasse praticamente de pé. Abraçada ao corpo, Artemia observou o rosto da garota. Um grande pesar fixou-se em seu peito, sentindo-se culpada por não lhe dar um enterro digno. Em contradição, era isso ou vê-la apodrecendo naquele chão frio da torre.

    - Adeus. Me perdoe... me perdoe por isso...

    A culpa dominou seu coração naquele instante. O frágil corpo imóvel da loira não respondeu.

    Artemia o debruçou na janela e o empurrou lentamente, até vê-lo cair com velocidade da janela e sumir.

    ♦♦♦

    O velho Kotros não havia entendido o olhar do dragão, porém o temeu grandiosamente. Quando Venkar esticou sua pata e envolveu o velho em suas garras, Kotros pensou que sua hora havia chegado. Morreria naquele instante, pagando pelo pecado de sua inutilidade para com seu mestre.
    Contudo, sua surpresa veio à seguir. O dragão não o matou. Nem sequer o feriu! Havia sido delicado ao envolvê-lo em suas garras. E então, subitamente saiu da caverna e levantou voo.

    Do lado de fora, as pessoas já haviam se recolhido para suas casas e retornado às suas atividades costumeiras, como se nada tivesse acontecido antes, deixando apenas como lembrança uma poça considerável de sangue próxima à estaca de madeira. Não havia mais nada lá.

    O céu estava azul. Um azul que parecia ser infinito. Assim que chegasse à uma altura considerável, Venkar veria o local onde se encontrava, e ainda um pouco mais além.

    Conforme sobrevoasse o pequeno vilarejo próximo à caverna, veria árvores de todos os tipos. A floresta parecia escurecer à esquerda. À direita, árvores e clareiras verdejantes chamavam atenção com sua beleza. Uma cachoeira pouco visível poderia ser vista não muito distante dali. Montanhas se estendiam ao redor. E, bem distante dali, duas torres se estendiam por entre as nuvens.

    Uma, escura como a noite, poderosa no alto de uma montanha pontiaguda.

    A outra, clara e amistosa, cujos telhados vermelhos reluziam à luz do sol.

    E, estranhamente, algo parecia cair do topo dela.

    ♦♦♦

    A criatura apertou os olhos quando João pegou a mão de Tetsuya e o arrastou para longe em uma corrida desesperada. Curiosamente, ela não se moveu. Parecia aturdida em observar Tetsuya. Apenas quando o ouviu gritar outra língua, que decidiu correr atrás deles.

    Seus passos largos se aproximavam perigosamente. João, exasperado, percorreu por entre as árvores e não largou os dedos de Tetsuya nem por um instante.

    - O quê?! Maria, não tente falar com eles! Não tente! Não está muito longe... já vamos chegar!!!

    Gritou o garoto, sem fôlego, enquanto corria pela sua vida, sem sequer perceber a presença da criatura ao seu lado. Assim que os dois pularam as margens de um pequeno riacho, João foi subitamente jogado para frente com apenas um tapa e Tetsuya se viu sendo derrubado pelo ser, que caiu com seu peso todo acima de seu corpo, justamente dentro das águas geladas do riacho.

    - DALAR!!! DALAR!!!

    Berrou a criatura, em agonia, buscando a verdade nos olhos de Tetsuya, apertando com força o manto vermelho do garoto. Porém, inesperadamente a criatura se viu sendo lançada fortemente para o lado, batendo com as costas em uma árvore em um baque estrondoso. Na frente de Tetsuya, agora, se encontrava uma outra criatura, ainda mais medonha e sinistra do que a anterior: parecia ser uma mulher extremamente gorda, cujos seios despidos e roseados quase tocavam os joelhos. Seu rosto era tampado por um manto sujo de retalhos, e no lugar de sua face havia uma placa trançada de madeira circular. Uma saia marrom caía até os pés e em sua cintura havia uma corda com várias colheres velhas penduradas.

    - Maria. Já não era sem tempo...

    Disse ela. Sua voz era grave e abafada. Várias moscas circulavam seu corpo, como se fosse pútrido. Ela se debruçou sobre Tetsuya e segurou em seu braço, como se o analisasse.

    - Está muito magrinha... huhuhu...

    E, rindo, começou a puxar seu corpo pelo rio, sem se importar se era o que Tetsuya realmente queria.
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    Mensagem  Venkar Qua Jul 05, 2017 4:52 pm

    O grande dragão observou a praça apenas por um instante antes de bater as asas e se lançar ao céu azul. Subiu sem descanso até ficar em uma altitude que considerava confortável, onde começou a planar em um grande círculo sobre a cidade.

    De sua posição privilegiada observou a paisagem com calma, a bela floresta á direita, a outra escura á esquerda do covil onde tinha acordado.

    Notou com curiosidade as torres acima das nuvens, e avistou algo caindo de uma das janelas da torre clara. Seguiu na direção dela, planando lentamente, enquanto finalmente se dirigia para Kotros.

    A fera o segurava de forma firme e segura, não lhe dirigiu a palavra enquanto subia e nem quando começou a planar, parecendo observar o ambiente ao redor. Foi só quando olhou na direção da torre mais clara foi que baixou o focinho e sua voz grossa e potente se fez ouvir.

    - Agora que estamos a sós, preciso lhe dizer que não sou o guardião de seu vilarejo, Kotros. Não sei explicar o que aconteceu, em um momento estava em meu território, ao lado de minha companheira e no momento seguinte acordei naquela caverna. Quero que me diga a verdade: o que aconteceu com o outro dragão que derrotou as amaldiçoadas, e como me trouxeram até aqui. Aqueles itens no covil claramente mostram que fizeram um ritual de invocação, me trazendo para cá, contra a minha vontade!

    Falava em um tom bastante sério, batendo as asas lentamente, seus olhos fixos na pequenina figura do velho em sua garra.

    - Fale a verdade, saberei se estiver mentindo. E se o fizer... não serão maldições ou amaldiçoadas que trarão ruína ao seu vilarejo!

    A ameaça era clara, se a sua explicação não agradasse o dragão, seria ele mesmo que destruiria a cidade logo abaixo.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Sex Jul 07, 2017 3:05 pm

    -Espere....ugh...tem algo de errado aqui, não devemos estar....!!!!

    Até mesmo o folego parecia ser menor naquele corpo humano; além de mais lento, o coração disparado já começava a cobrar-lhe mais oxigenio que os pulmoes conseguiam oferecer. Mas antes que pudesse finalmente freiar, viu o garoto ser arremessado. Antes que pudesse reagir, era ele também lançado contra as águas congelantes daquele riacho, cujas aguas penetravam por sua roupa como lâminas, queimando-lhe a pele de frio pouco a pouco. O grito ficou aprisionado na garganta, conforme fitava a criatura que lhe derrubara. Parecia querer avisá-lo, adverti-lo de algo. Olhou imediatamente para o capuz vermelho, fazendo menção de que iria tirá-lo.

    E eis que o ser hibrido era arremessado, num arremesso contra uma arvore proxima. Seu corpo tremia absurdamente de frio, ou seria medo? Os olhos azul gelo e dourado fixaram-se na mulher, imediatamente lembrando-se do demonio obeso na casa de show em UOLCity. Num corpo humano, o que poderia fazer contra aquela criatura, fedendo a decomposição?

    O braço era segurado com força; as costas já estavam vermelhas de ardor pela agua gelada, que naquele momento já começava a anestesiar-lhe a pele, literalmente congelando as terminações nervosas, o primeiro passo para a hipotermia. AInda assim, esbravejou, enquanto estendeu a mão livre para o rio, enquanto era puxado.

    -Eu não sou Maria...sou Tetsuya, filho de Iriel e Fuyu, e farei com que se arrependa de cada segundo desde que me conheceu, carniceira gorda!!

    A mão no riacho buscou uma pedra lascada, afiada, a qual usou para atingir com toda a força que podia no pulso da criatura obesa. Tentava lesionar os tendoes dos flexores dos dedos, de forma a soltar-se de seu aperto, antes que acabasse perdendo a consciencia devido ao frio. As roupas molhadas aceleravam e muito a hipotermia progressiva no rapaz, e teria pouco mais de 5 minutos antes de perder a consciencia, no máximo.
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    Mensagem  Artemia Qua Jul 12, 2017 4:45 pm

    Aparentemente seguro entre as garras de Venkar, o velho Kotros agarrou-se como pôde, sentindo uma incômoda vertigem embrulhar seu estômago. Jamais havia estado a tantos metros do chão - o que dirá acima de sua cidade! Em uma tentativa de se distrair, o velho observou a paisagem e sentiu um arrepio tomar-lhe conta quando avistou a torre negra ao oeste. Seus pensamentos mórbidos em relação àquele lugar foram interrompidos pela voz ecoante do dragão que o carregava céu acima, lhe revelando toda a verdade.

    O espanto era visível nas feições desgastadas de Kotros. O velho não soube o que dizer por vários segundos, até que o silêncio tornou-se ensurdecedor e o medo da falta de resposta o fez falar qualquer coisa imediatamente.

    - Não... não é o senhor? Céus... não pode ser...

    Pasmo, Kotros voltou a ficar quieto por mais alguns segundos. Sua mente precisava processar as informações, terrivelmente nubladas com a vertigem. Quem era aquele, então? Quem era aquele dragão desconhecido que o ameaçava e o carregava perigosamente acima das árvores?

    - Meu... meu senhor... se o senhor não é o meu senhor...

    O velho ergueu os olhos para o horizonte. Um choque terrível perpassou pelo seu coração, e o homem quase infartou em pleno voo.

    - Então... Então quem é aquele?!

    Balbuciou frente à imagem espantosa de um imenso dragão negro escalando a torre mais clara à direita, exatamente o local onde Venkar havia escolhido para explorar: suas escamas negras cintilavam à luz do sol, suas garras fincavam nas paredes da torre, quase a derrubando devido ao seu tamanho avantajado. Ele finalmente alcançou a pequena janela do topo.

    Uma garota apareceu no parapeito, assustada com o tremor da torre. Seu rosto estava inchado de tanto chorar; seus longos e ondulados cabelos ruivos voaram para todos os lados assim que o focinho do extenso dragão negro exalou seu bafo pútrido.

    - Não!! Quem é você??!!

    Berrou Artemia, correndo para o interior do quarto, procurando se afastar daquele ser. O imenso dragão rosnou e enfiou seu focinho ainda mais para dentro, grudando suas garras na torre.

    - O que você fez com ela?! O QUE VOCÊ FEZ COM ELA?

    O vozerão do dragão era tão imponente quanto uma tempestade. E tal vozerão poderia ser ouvido até mesmo nas partes mais afastadas da floresta escura e gelada, exatamente onde Tetsuya agora se via sendo arrastado por uma mulher assustadoramente pútrida. A tentativa do vulpino em machuca-la foi completamente em vão, e ainda rendeu uma boa gargalhada seca vinda dela: a pedra bateu em seu pulso firme e caiu ao chão em seguida; Tetsuya notaria que seu corpo parecia ser extremamente rígido, até mesmo para uma pedra. A mulher, achando aquilo extremamente cômico, alcançou uma perna dele e o ergueu de cabeça para baixo, puxando seu corpo sem se importar com a cabeça sendo rastejada pelo solo extremamente gelado, repleto de pedras e galhos secos machucando sua pele e piorando seu estado...

    - Não tente nada, mocinha. Vou te levar para casa...

    Para casa... para casa...

    Essas seriam as últimas palavras, em meio à gargalhadas mórbidas, que Tetsuya ouviria até perder a consciência.

    Escuridão. Um suspiro. De olhos fechados, Tetsuya conseguia enxergar uma luz forte. Ele abriria os olhos e veria uma janela aberta, deixando o vento balançar cortinas leves. Uma mulher loira, de olhos azuis, sorriu para ele. Parecia um anjo. Ela sumiu, como se dissolvesse. Havia alguém deitado ao seu lado. Uma cabeleira ruiva intensa e ondulada se moveu. A garota estava coberta com um lençol tão claro quanto à luz que vinha da janela. Ela se virou para ele, jogando um travesseiro em seguida. Sua risada preencheu seus ouvidos, tornando-se longínqua conforme a escuridão lhe tomava os sentidos. E cada vez mais distante, a risada foi tomando outra forma, uma mais seca e fria. Cruel.

    Assim que abrisse os olhos, Tetsuya se veria comprimido em uma minúscula jaula de ferro, erguida do chão a cerca de três metros. A pequena casa possuía uma temperatura confortável devido à um caldeirão volumoso logo abaixo; suas paredes de madeira reluziam à luz do fogo de uma lareira próxima à uma mesa repleta de colheres de todos os tipos. Antigas cadeiras de balanço e uma cama estreita compunham o ambiente. Isso sem mencionar uma grande grelha próxima ao caldeirão e facas de todos os tamanhos penduradas logo acima. Tetsuya notaria uma outra jaula próxima, porém mais abaixo, ainda que erguida do chão. Um garoto usando uma capa vermelha se encontrava adormecido naquele pequeno espaço; suas pernas estavam caídas para fora das barras de ferro. O rosto de João estava inchado e ferido, e seus braços finos sem se mover naquela penumbra.
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    Mensagem  Venkar Qui Jul 13, 2017 9:55 am

    Venkar se irritou. Porque não podia obter uma resposta direta uma vez pelo menos? Apertou um pouco mais a garra onde Kotros estava, e o chacoalhou de leve, ainda planando na direção da torre branca.

    - Recomponha-se homem! E me responda como me trouxeram....

    Parou a questão no meio, quando notou o velhote apontando para a torre. Havia um dragão negro como si próprio agarrado á estrutura, e na janela mais alta uma pessoa, uma mulher. Venkar pôde reconhecer de imediato quem era, devido á sua visão aguçada e exclamou surpreso.

    - Artêmia!??

    Vendo que o outro dragão estava a encurralando e meteu o focinho pela janela adentro, Venkar não hesitou e mergulhou, descendo em alta velocidade mantendo suas enormes asas contra seu corpanzil.

    Se aproximou velozmente, e então se chocou com o dragão, cravando as unhas das patas traseiras em suas costas, os dentes em seu pescoço. O pobre Kotros era sacudido violentamente na pata do de seu falso mestre.

    Rugiu mesmo com os dentes cravados na carne do oponente:

    - Deixe-a em paz!!




    Não sabia porque a estava protegendo, e atacando um semelhante... na verdade nem pensou a respeito. Talvez o tempo que passaram juntos, ou talvez por ter amizade com ela o fez agir assim, como fizera da outra vez lá na cidade em ruínas, quando também ficou em sua defesa, contra o loiro resistente á fogo.

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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Qui Jul 13, 2017 6:07 pm

    Os tremores iam cada vez mais desaparecendo, demonstrando a hipotermia que se agravava. Os lábios já arroxeados pelo frio tentaram balbuciar algum xingamento, mas os olhos pesaram, e a consciencia cedeu. Não era a escuridão ou a luz que o aterrorizavam; era o frio, a sensação de impotência, de perder o pouco que tinha. As imagens da mãe lhe traziam em tona as duas vezes que perdeu sua mãe, e mais uma vez os pesadelos lhe torturavam em seu sono. A ruiva ao lado, coberta pelo lençol, lhe trouxeram um breve conforto - seria Artemia num véu de noiva? Não, era uma mortalha sombria, de mais uma morte que, ceifando mais uma pessoa querida, ceifava mais uma parte do coração.

    Pouco a pouco seu corpo foi se movendo, a sensibilidade de dor pelo frio voltando, acordando-o como um alarme torturante. Todo seu corpo doía, enrijecido pelo frio e contraturas forçadas, nervos queimados pelo gelo. Apoiou o antebraço na jaula, erguendo o corpo, conforme observava o que estava acontecendo.Não precisou de muito tempo para perceber o que seria servido naquela cozinha; a voz ainda rouca, na garganta que ardia de dor pelo frio, tentou chamar por João.

    -Garoto....acorde....temos que sair...

    E foi se levantando, com ajuda das barras de ferro. Tocaria a fechadura, tentando forçar sua abertura. Sem sucesso, começava a tentar jogar o corpo de cada lado da jaula de forma pendular, tentando forçar o ponto de suporte entre a jaula e o teto ou chão, de forma a tentar se jogarno chão dentro da propria jaula. Talvez o impacto contrao chão ou parede pudesse fazer a tranca se abrir. Basicamente, faria de tudo para sair dali e impedir que suas visões de morte de ARtemia se concretizassem; seu corpo era frágil, mas seu espirito parecia inabalável, e não iria desistir diante de mais nada, teimoso como era.
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    Mensagem  Artemia Sex Jul 14, 2017 5:02 pm

    A apertada jaula em que Tetsuya se encontrava balançou fortemente, conforme ele fazia movimentos pendulares: a pesada corrente fixada no teto meramente lascou um ou outro pequeno pedaço acima de sua cabeça e, ainda que o barulho metálico enferrujado estivesse alto, não bastou para acordar João.

    O caldeirão abaixo fervilhou, deixando o denso vapor tomar conta do ambiente. O odor era adocicado, trazendo uma lembrança forte de caramelo. Havia um silêncio sinistro naquele lugar: a humilde casa deixava mostras da presença de alguém que vivia ali, alguém que ainda não havia aparecido.

    Porém, o silêncio da casa foi interrompido por Tetsuya, que se lançou contra a jaula de João, causando um barulho metálico que fez ambas as jaulas vibrarem. Não apenas isso, o impacto também fez a jaula de João despencar os poucos metros que a distanciava do chão, batendo com força. A colisão causou um estrondo ensurdecedor - Tetsuya sentiria o som fino do metal incomodar seus ouvidos; a fechadura entortou com o peso e a porta se abriu, libertando um João aterrorizado por ter acordado em meio ao impacto.

    - Mas o que...?!

    Sons crescentes de passos aflitos surgiram. Alguém abriu a porta com violência - era a mulher gorda de antes; seus seios balançando lânguidos próximos aos joelhos. Ela adentrou o cômodo, porém nada fez. Parada em meio à sala, a mulher moveu sua cabeça como se farejasse e procurasse ouvir algum outro som. João, que havia soltado um berro com o susto, ficou quieto, tapando a própria boca para que sua respiração não o entregasse. A placa de madeira que cobria o rosto da mulher brilhou com a luz da lareira. Estranhamente, parecia que ela era cega e não enxergava um palmo à sua frente - o que não significava que sua audição e olfato estivessem prejudicados também.

    - João... Maria... espero que estejam aí, senão eu...

    João não se moveu. Sua cabeça virou lentamente na direção de Tetsuya, como se sinalizasse para que ele ficasse quieto também. O garoto havia percebido a porta da jaula aberta, e certamente esperaria a oportunidade perfeita para abri-la e correr dali...

    - O que significa isso?!

    Uma outra voz, ainda mais esganiçada, surgiu da porta. Uma outra mulher apareceu: esta era magra e corcunda; sua cabeça estava coberta por uma túnica imunda e um véu vermelho com buracos cobria seu rosto. A mulher esticou suas mãos, as quais pareciam garras, de tão longas, e correu até a jaula caída de João. O garoto percebeu a mulher vindo e tentou chuta-la, sem sucesso: as garras afiadas tocaram justamente sua face profundamente ferida. João gritou e se debateu enquanto ela lutava para fechar a porta da jaula.

    - Vex, maldita! Nunca deveria ter confiado a você de trazer essas meninas!

    - Me deixe em paz, sua frouxa. - Vex, a mulher gorda, respondeu enquanto caminhava até o caldeirão e mexia em seu líquido com uma enorme colher de pau. O vapor quente e adocicado mais uma vez se dispersou pelo ambiente. Ela parecia não se importar com o desespero de João e as unhadas doídas que a mulher fincava no rosto do garoto, empurrando-o para que ficasse parado dentro do espaço apertado entre as barras de ferro.

    - Me solta! Me solta! Quem é você?! Me solta! - berrou João, quando a mulher corcunda empurrou sua cabeça para dentro da jaula, o forçando para que voltasse. João se debateu e se contorceu, mas seus ferimentos pareciam ser graves o suficiente para impedi-lo de conseguir sucesso.

    - O que está havendo aqui?

    A última voz pertencia à uma terceira mulher, que se aproximava da porta e a fechava com força.

    Sua voz era grave, seu corpo era esguio e suas feições não deixavam a desejar. Seu impecável vestido negro caía até o chão, seus cabelos lisos eram ainda mais escuros. Esta, completamente diferente de suas companheiras, cruzou os braços enquanto assistia a mulher corcunda erguer a jaula de João em uma posição ereta e finalmente o trancar com um novo cadeado retirado, com muito sufoco, de uma pequena bolsa que ela carregava consigo. Tudo isso em meio aos berros e sacolejos do garoto, é claro.

    A mulher de voz grave observou João com asco, ignorando completamente seus gritos e súplicas. Seu olhar frio se ergueu até Tetsuya e uma expressão de surpresa tomou conta de sua face.

    - Malum, me explique... - disse ela, com uma secura cuidadosa, enquanto a mulher corcunda parava para recuperar seu fôlego perdido. - O que dois garotos fazem em nossa moradia?

    •••

    No alto da torre, Artemia gritava em desespero conforme o imenso dragão negro enfiava seu focinho ainda mais para dentro do quarto. Este parecia ser fino o suficiente para caber ali e ainda conseguir mostrar os dentes afiados. Uma pequena fumaça quente saiu de sua bocarra, como se preparasse para algo...

    Suas intenções, quaisquer que tenham sido, foram cortadas imediatamente pelo ataque de Venkar, que se lançou contra seu pescoço - o dragão negro tombou o corpo para baixo e a torre balançou com o forte impacto de um dragão contra o outro, perdendo uma grande parte de sua estrutura, partindo-a praticamente ao meio. Artemia se segurou como pôde, agarrando-se à parede, completamente confusa e apavorada sobre o que poderia ter acontecido, berrando palavrões de todas as espécies enquanto o piso onde estava se dividia em dois.

    - Quem é você?! Inferno!!

    Gritou o dragão enfurecido, fazendo todo seu possível para retirar a bocarra de Venkar de seu pescoço dolorido, sem grande sucesso: suas próprias garras grudaram no interior da torre, que despencava cada vez mais a cada movimento brusco de ambos. Venkar, agarrado às costas do dragão negro, não poderia ter encontrado posição melhor. O mesmo não poderia ser dito a Kotros, que, apertado e falsamente seguro nas garras do dragão, praticamente sufocava ali dentro. O impacto na torre o fez ser quase esmagado.

    O dragão negro subitamente preferiu ignorar Venkar, enfiando seu focinho novamente com toda força na torre em desabamento, exatamente em frente à uma Artemia desesperada que se agarrava ao piso para que não caísse junto com o que restava da torre desequilibrada. O imenso dragão parecia procurar se decidir sobre algo de última hora, e quando o fez, as fendas de suas pupilas afinaram e um rugido raivoso ressonou dentro de sua garganta.

    - Eu não vou admitir que estrague meus planos...!

    Esbravejou ele com sua voz potente, abrindo sua bocarra gigante. Artemia arregalou os olhos e gritou até sua voz falhar - a garota viu sua morte ali, naquele instante. Contudo, ao invés de engoli-la, o dragão pareceu buscar algo nas profundezas de sua garganta e, rapidamente, vomitou um líquido roxo e espesso em cima da ruiva.

    O líquido pareceu queimar sua pele.

    Artemia, já sem voz, não poderia estar mais aturdida. O choque e o ardor a fez se soltar do piso partido ao meio em que estava se segurando. Ela caiu com velocidade do que restava da torre, desaparecendo em meio aos escombros. O dragão gargalhou, apesar da dor intensa em suas costas e pescoço. Tendo feito exatamente o que queria, este empurrou seu corpo contra a torre com violência e soltou suas garras de sua superfície, que terminou de desabar em pedaços, provocando uma nuvem de poeira acima das nuvens.

    - Agora me solte, seu imbecil! Isto é para a nossa sobrevivência! Me solte e me responda quem é você!

    O imenso dragão negro aguardou poucos segundos pela resposta. Rapidamente, ele olhou para baixo, na direção de onde a torre havia caído, como se procurasse por algo. Com um rugido raivoso por não ter encontrado o que queria, o dragão - ainda preso à Venkar - se lançou em direção à terra firme, voando velozmente na direção dos escombros em meio à nuvem de poeira. Ele parecia não se importar com as garras e os dentes afiados de Venkar, seu objetivo parecia ser mais importante do que sua própria dor.

    E então, assim que vislumbrou o solo, o dragão rapidamente virou seu corpo em 180º e fincou ao menos uma de suas garras no estômago de Venkar, como se esperasse que aquilo amortecesse sua queda, e ambos caíram com um baque surdo em meio aos escombros do que havia restado da torre, em terra firme. Em volta deles, havia árvores caídas, poeira e pilhas e pilhas de escombros.

    E, o impossível: havia também um dragão vermelho caído em meio aos escombros.

    O dragão vermelho estava inconsciente. Enfraquecido, inerte. Seu corpo parecia ser do mesmo comprimento do de Venkar. Suas enormes asas vermelhas estavam caídas para os lados. Alguns pedaços de tijolos e a densa nuvem de poeira escondiam o restante de seu imenso corpanzil.

    No entanto, o dragão negro havia caído logo abaixo de Venkar, com suas garras ainda fincadas em seu estômago. O velho Kotros, que havia sido esquecido em meio à luta entre ambos os dragões, estava inconsciente dentro das garras de Venkar. Não se sabia se estava morto.

    O dragão negro virou o pescoço, observou o dragão vermelho por um breve momento e encarou Venkar.

    - Agora sim, ela está bonita...


    •••


    Imagens de referência

    Mulher gorda (Vex):


    Interior da Floresta - Página 7 14850111


    Mulher corcunda (Malum):

    Interior da Floresta - Página 7 Npc10


    Mulher de voz grave:

    Interior da Floresta - Página 7 Lust-f10


    Dragão negro:

    Interior da Floresta - Página 7 Black-10


    Dragão vermelho:

    Interior da Floresta - Página 7 Reddra10
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    Mensagem  Venkar Seg Jul 17, 2017 5:00 am

    Assim como nas outras vezes, quando se enfurecia, Venkar perdeu completamente o controle se deixando levar pela fúria irracional. Por isso sequer percebeu que a torre começava a ruir, e o pior... que o oponente era maior do que a si próprio.

    Continuava a arranhar o dorso do grande dragão negro com as patas traseiras e mantinha sua mandíbula cravada no pescoço dele, determinado a fazê-lo em pedaços. Ouvia bem baixo em sua mente nublada os gritos desesperados de Artêmia, o que o fez aumentar a violência de seu ataque.

    Infelizmente, neste estado Venkar não mais se preocupava com o infeliz Kotros, o esmagando entre sua garra e o pescoço do outro dragão, quando tentou segurar o mesmo e puxar a cabeça para trás, arrancando um pedaço de couro escamoso e carne de seu inimigo.

    Os gritos do dragão em agonia lhe proporcionava uma satisfação mórbida, logo virou a cabeça para o lado e cuspiu o pedaço que estava entre os dentes. Foi neste momento que Venkar percebeu que seu oponente enfiou novamente a cabeça na torre e pelo movimento de seu pescoço ele cuspiu algo em sua amiga.

    - Não!!!  

    Rugiu alarmado e pela sua posição observou Artêmia sumir em meio aos escombros e poeira, provavelmente morta. Ficou quieto, aturdido, não conseguira salvá-la, uma angústia imensa se formou em seu peito.

    Neste momento o outro dragão se jogou contra a torre e mergulhou, a torre ruía causando uma enorme nuvem de poeira. Venkar se segurou como pôde, mas não mais com tanta força, ainda não conseguia acreditar que tinha falhado. Foi neste momento de fraqueza que o dragão se virou 180 graus e o atacou, cravando suas garras em seu ventre.

    A dor repentina o fez piscar os olhos e acordar para o que estava acontecendo, cerrou os dentes e com os braços tentando impedir que o outro dragão o usasse como escudo contra o solo que se aproximava rapidamente. No fim os dois bateram contra os escombros com um baque surdo.

    Levou alguns instantes para se recuperar do choque, ainda meio grogue, levantou o focinho e avistou, entre o que restou da torre, um dragão vermelho semi enterrado nas ruínas. Não entendia porque ele estava ali, talvez a queda da torre o tenha pego de surpresa. Mais um crime que o dragão negro iria ter que responder, pensou.

    Foi neste instante que percebeu que estava sobre o outro dragão, suas unhas cravadas em seu ventre, na altura do estômago. Sangue vermelho escuro escorria lentamente. Venkar mal sentia a dor daquele ferimento, pois seu corpo todo doía. Levantou a pata direita e viu que de Kotros só sobrava uma mancha avermelhada entre seus dedos, algo a mais para punir o dragão que matou sua querida amiga Artêmia.

    O dragão negro virou o pescoço, para observar o vermelho caído entre os destroços... mas logo após falar que ela estava bonita, ao encarar Venkar veria a sua bocarra escancarada e em menos de um segundo depois um brilho amarelo incandescente o ofuscou.

    Soprou fogo sem parar na cabeça do outro dragão, incessantemente, descarregando nele toda sua frustração, raiva e tristeza. Perdera Kotros, que ainda podia lhe ser útil.. perdera Artêmia... nem pôde falar para ela o quanto significava para si. Mal percebeu que de seus olhos escorria lágrimas que rapidamente evaporava devido ao calor infernal de suas chamas, que em sua dor não pensou sobre o que o outro dragão disse dela estar mais bonita.

    Só pararia caso fosse atacado, na hipótese do outro dragão ser resistente á fogo ou quando restasse menos que cinzas da cabeça e parte superior do pescoço de seu oponente.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Seg Jul 17, 2017 8:29 am

    Ao menos o garoto se salvaria, pensou ele. Mas a esperança de uma melhora na situação atual se esvaiu, ao ver a mulher obesa chegar novamente. E ficou em silencio, em entreolhares com João. Pensou em distrair a mulher, e fez menção de que iria começar a bater contra as grades para chamar sua atenção, mas foi surpreendido por uma segunda. Afinal, quantas daquelas criaturas haviam ali?

    Observava a tortura ao pequeno garoto com pesar; faltavam-lhe forças para reagir mais do que aquilo, e o agitar das grades lhe consumira bastante energia e folego para que pudesse gritar. Mas observava atentamente as frágeis relações entre ambas as mulhres; talvez pudesse explorar isso mais adiante. E uma terceira, diferente, entrava naquele ambiente. Diferente das duas e, pelo ar superior, possivelmente hierarquicamente acima. Imaginando que se tratassem de alguma espécie de demônio, já presumia uma relação de poder ali; se nao pudera contra a obesa, o que poderia fazer contra aquela terceira? Mais duvidas iam se acumulando.

    O ex-raposo retribuiu o olhar frio da terceira mulher com um fitar de sobrancelhas cerradas, o olhar determinado, longe do assustado esperado para um rapaz naquela situação. Ao contrário, parecia irritado pela aparente confusão feita consigo. Observou o garoto com certo pesar, pela situação em que passava.

    - Então é essa a mulher contra a qual vocês duas conspiram, hm? eu disse a você antes, Vex. Devorar dois rapazes não vai lhes dar poder o bastante para que liderem essa casa de horrores...

    Dizia, encenando uma conspiração entre as duas mulheres contra a terceira. Esperava que usando de astúcia pudesse eliminar alguns alvos. Caso ainda tivesse, as caudas vulpinas estariam mexendo em contentação, pela astúcia vulpina caracteristica da raça.
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    Mensagem  Artemia Seg Jul 17, 2017 11:44 am

    Venkar, possuído por uma fúria altamente louvável, ateou fogo no focinho do dragão logo abaixo. Desprevenido pela atitude do inimigo, o negro se debateu furiosamente, procurando virar seu corpo ferido sem grande sucesso - o peso de Venkar e a posição desfavorável em que se encontrava anulava suas chances de mudar de posição, ou até mesmo escapar: suas próprias garras ficaram presas devido ao peso que o pressionava contra o chão.

    No entanto, Venkar não parecia parar para pensar que aquela poderia ser sua única e maior fonte para descobrir o que ocorria naquele lugar...

    Em meio aos gritos agonizantes, o dragão negro balbuciava palavras perdidas nas chamas, como "nossa chance", "sair" e "viver", rapidamente transformadas em cinzas. Após alguns segundos, apenas curtos espasmos davam vida ao imenso corpanzil do dragão negro, que teve sua cabeça completamente estorricada, cujas cinzas formavam uma pilha que drasticamente se espalhou com a poeira dos escombros.

    Assim que Venkar virasse sua cabeça, se depararia com imensos olhos verde esmeralda o encarando: o dragão vermelho, ainda deitado nos escombros, apenas moveu levemente o corpo, deixando um pedaço de concreto pequeno rolar pelo chão, que foi rolando lentamente até bater na ponta da cauda de Venkar.

    O dragão vermelho piscou duas vezes os olhos até tentar se mover mais uma vez.

    Sua expressão mudou para outra estupefata, terrivelmente ansiosa; o vermelho agitou a cabeça para os lados, olhou para os escombros, olhou para si mesmo e um terror se instaurou: completamente tomado por um pavor incontrolável, o dragão tentou se erguer e tudo que conseguiu foi rolar pelos escombros e parar exatamente em frente à Venkar. Desesperado, ele rugia como um animal assustado, se arrastando pela cauda para o mais longe possível; seus olhos e sua cabeça corriam para todos os lados, urrando cada vez que observava seu próprio corpanzil.

    Sem berrar palavras compreensíveis, o vermelho tentava se afastar de Venkar de forma desajeitada, extremamente confuso, caótico em sua própria forma. O dragão negro eventualmente parou com os espasmos e um sangue espesso ainda pingava da pata direita de Venkar. Os olhos esmeralda do vermelho finalmente pousaram, apavorados, em Venkar. Seu corpo bateu no caule partido de uma árvore, o impedindo de se arrastar ainda mais para longe.

    Uma pequena fumaça saiu de sua bocarra, como se tentasse dizer algo, mas sem saber como. Cada vez que tentava falar, uma tosse surgia em meio à um vapor quente que surgia sem sua permissão. Desengonçado, o dragão vermelho tossia e perdia o fôlego facilmente. Parecia que sua vontade, naquele momento, era de desaparecer em seu próprio pavor vergonhoso.

    •••

    A mulher de voz grave encarou Tetsuya e segurou seu olhar por alguns segundos, cruzando os braços. João havia parado de berrar. Malum e Vex se aproximaram, cautelosas.

    - Interessante. Conspiração, você diz? - disse a mulher, sem desviar os olhos frios do ex vulpino.

    - Não é nada disso! Ela está mentindo! É uma garota sim, Lorna! Por que daria ouvidos à uma criatura que mal chegou à esta casa! - Vex voltou sua atenção ao caldeirão, como se não se importasse com as acusações.

    Malum, no entanto, parecia estar mais assustada do que o próprio João, que jazia em seu próprio silêncio, recolhido em meio às barras de ferro.

    - Vex que ficou de trazer as garotas. A culpa é inteiramente dela se houve um engano!

    Lorna, a mulher de voz grave, apertou os olhos para Vex, que parou instantaneamente de mexer na imensa colher de pau no caldeirão.

    - Vou dar uma única chance de vocês repararem o erro. Então? O que têm a dizer sobre as acusações deste gentil rapaz?

    Vex foi a primeira a se pronunciar após um silêncio constrangedor entre ambas.

    - Eu fiz tudo o que faço todo ano! Fiquei nas redondezas esperando a entrega das garotas. E elas foram entregues. Estavam sendo atacadas por aquelas Darkas, se quer saber.

    - Mentira! Esfomeada e cega como é, pegou qualquer um que encontrou naquela maldita floresta! Pensei que faria melhor seu trabalho! - Malum deu um tapa raivoso no ombro de Vex.

    Lorna caminhou até Vex e parou exatamente de frente à ela. Seus dedos longos e finos tocaram a roupa da mulher gorda.

    - Vex. O que as Darkas faziam por aqui? Você deveria tomar conta para que elas não voltem.


    - Ela quer ficar como você logo, passando a perna em mim, Lorna! - Malum, se aproximou também, dando as costas à Tetsuya.

    Vex começou a falar sem praticamente pausas, cuspindo tudo que aparentemente sabia.

    - Não passaria a perna em vocês! Eu só... a culpa toda é daquela mulher, a Gaux! Não é a toa que foi exilada do vilarejo! Ela e o marido nos enganaram! Todos naquele vilarejo sabem que todo ano existe essa porcaria de rodízio pra entregar uma garota para nós! Lorna, eu sabia que aquela praga enjaulada ali embaixo era um garoto, e seu nome é João. A outra ali em cima deveria ser uma garota e se chamar Maria! Gaux nos prometeu seus filhos, João e Maria, em troca de um encontro com o mago da torre! Ela nos enganou! Ela nos enganou! Eu iria trazer para nós uma surpresa, não apenas uma garota imunda, e sim um casal! E teríamos que entregar para o dragão apenas Maria! João ficaria conosco!

    Após praticamente guinchar, Vex ficou em silêncio. Lorna tocou o próprio cenho com a ponta de um de seus longos dedos, impaciente. João começou a chorar, murmurando baixinho "ela também me enganou...", não esperando ser escutado.

    - Quer dizer que Gaux, a mulher do vilarejo, ao invés de entregar apenas uma filha, te convenceu de que iria entregar seu casal de filhos? Por que ela faria isso, hmm, Vex? Por que uma mãe daria dois filhos ao invés de um?


    A mulher gorda pareceu ficar ainda mais ansiosa.

    - Eu disse, Lorna! Ela queria um encontro com o mago da...

    - Chega, Vex. Você sabe que o sábio e poderoso Onbart jamais aceitaria se encontrar com uma mera camponesa. Por que ele a encontraria? PARE DE ME ESCONDER COISAS, SUA MALDITA!

    Nesse momento, Lorna pareceu perder o controle que tentava segurar a todo instante. Sua voz, ainda mais grave, se exaltou. Tetsuya notaria as feições da atraente mulher se transformarem em uma grotesca idosa, cujos dentes afiados traziam uma sensação ainda mais assustadora. A imagem duraria apenas um lapso de segundo, o que deixaria a dúvida se ele estava fantasiando ou não.

    Malum pousou uma mão no ombro de Lorna, como se quisesse acalma-la. Aquilo pareceu estranhamente ajuda-la a recobrar o controle. Vex, assustada, havia se afastado, estando exatamente ao lado da gaiola de Tetsuya. Malum pigarreou e tentou solucionar a situação:

    - Acho melhor Vex trazer Gaux até aqui para entendermos melhor essa história.

    Lorna caminhou até em frente à gaiola de Tetsuya novamente, cruzou os braços e o encarou inquisitória.

    - Garoto, responda quem você é e o que fazia próximo à nossa casa.

    Um barulho de porta se fechando denunciou a saída de Vex. A mulher certamente saiu em busca de Gaux para amenizar seus problemas, restando apenas Lorna e Malum na casa mal iluminada.

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