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O que aconteceu após o golpe militar de 17 anos atrás...


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Artemia
Jasor Messast
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    Interior da Floresta

    Venkar
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    Mensagem  Venkar Seg Jul 17, 2017 1:37 pm

    Apenas quando o seu oponente parou de se debater e um forte cheiro de carne queimada encheu o ar, foi que Venkar cessou seu ataque. Com a bocarra ainda aberta, respirava fundo, observando satisfeito o resultado. O outro dragão era maior, provavelmente um adulto, e o tinha derrotado, sozinho! Seus parentes com certeza ficariam orgulhosos.

    Com certa dificuldade se moveu para sair de cima do cadáver, tomando cuidado para as unhas que ainda estavam cravadas em sua barriga não o ferissem mais. Com um empurrão, as patas do dragão caíram inertes para os lados de seu corpo, e Venkar baixou o focinho lambendo o ferimento, felizmente não era tão grave, pois sangrava pouco.

    De fato ele não tinha pensado que o outro dragão poderia ser uma fonte de informações... ele era maior, provavelmente mais poderoso fisicamente, e imaginou que não estaria disposto a revelar nada, era normal de dragões estranhos se encararem de forma hostil no primeiro encontro, ao contrário de fêmeas, que eram subjugadas á força no período de acasalamento.

    Respirou fundo e sentiu alguém próximo, virando o focinho encarou o outro dragão, só agora percebeu que era um vermelho! Um.. não, uma. Não era um macho e sim uma fêmea, a forma de seu focinho e o aspecto esguio de seu corpo, mais delicado, não permitia dúvidas. Mas o que ela fazia ali? E aqueles olhos... que belos olhos verde-esmeralda. Tinha certeza que já tinha visto esta cor em algum lugar... mas neste momento não se recordava.

    Ficou quieto a encarando, sem se mover muito: Sabia que os vermelhos era uma das raças mais ferozes e poderosas dentre todos os dragões. Sentiu o impacto leve contra sua cauda mas não esboçou reação. Esperava sinceramente um ataque, o que fez seus músculos se tensionarem.

    Notou curioso ela ficar cada vez mais... confusa? E apavorada. Seria possível que seus ovos estivessem na base da torre? Assim que ela tentou se levantar mas acabou rolando para a sua frente, ele baixou de leve a cabeça, rosnando em tom baixo, na esperança de não fazê-la atacar:

    - Está tudo bem... eu não desejo lhe fazer mal, mas... acalme-se! Seus... seus ovos estavam dentro da torre?...

    Esperava sinceramente que não, depois de apavorada, com certeza viria a fúria contra o único ser vivo diante dela. Venkar estremeceu levemente. Mas seu receio logo se transformou em confusão, o que tinha de errado com a fêmea? Ela parecia ter medo de si, mas... porque? Seria consorte do dragão negro morto?

    Quando ela parou próximo de uma arvore partida, pensou em se aproximar. Porém como ela parecia não querer atacar, voltou a atenção aos escombros. Primeiro tinha que recuperar o corpo de Artêmia.

    Esperava, rezava aos Deuses que alguém no vilarejo pudesse ajudá-lo. Talvez Artêmia estivesse desacordada? Sabia que era tolice acreditar nisso, mas mesmo assim foi até os escombros e começou a mover com cuidado os pedaços maiores, procurando. Praticamente separou todos os grandes escombros... mas não havia nada ali... nem sangue, nem restos de tecido de sua roupa... não fazia sentido, tinha que haver algo ali... moveu as asas um pouco doloridas com a queda, frustrado. A fêmea podia ouvi-lo murmurando infeliz:

    - Artêmia... perdoe-me por não conseguir salvá-la... cheguei tarde demais... maldito... maldito seja...

    Olhou com raiva para o corpo sem vida e sem cabeça do outro dragão negro. Rosnou em desgosto, e Artêmia se o observasse com atenção podia perceber algo escorrendo dos olhos do macho, que tentou esconder o focinho dos olhos da fêmea.

    Desistiu de sua busca após alguns minutos sem resultado. Voltou por fim atenção á vermelha, notando como ela se portava, e então decidiu se aproximar andando devagar, afim de não assustá-la mais.

    Chegou cerca de dez metros de onde ela estava, com uma aparência infeliz. Havia perdido uma grande amiga, então talvez pudesse se redimir auxiliando esta estranha fêmea de olhos esverdeados, realmente tinha algo naquela cor. Falou baixinho para ela:

    - Está tudo bem, a.. eu... ele...

    Não sabia o que falar para fazê-la se sentir melhor, pensou em ir embora, mas aqueles olhos intensos o mantinham ali. Notou a expressão dela, e inclinou a cabeça para o lado, confuso.

    - Porque está envergonhada? Sois uma das fêmeas mais bonitas e elegantes que já vi...

    Esperava que o elogio a deixasse mais tranquila.

    - Meu nome é Venkar, e o seu?
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Seg Jul 17, 2017 7:05 pm

    Tetsuya apenas observava tudo se desenrolar, parcialmente satisfeito em saber que a confiança entre as três não era tão grande. Tentaria arriscar-se um pouco mais,mas com cautela. Meias verdades e mais convincentes; talvez pudesse usar isso mais a seu favor e encontrar Artemia e recuperar seu corpo?

    - Sou Tetsuya, um poderoso demônio raposa de 9 caudas, um dos 9 grandes lordes infernais, o lugar para onde a alma dos condenados vão, em meu mundo. Por um descuido, meus inimigos sequestraram minha rainha e a levaram para este mundo. Ao vir para cá, fui surpreendido por uma armadilha de meus inimigos, que selaram meus poderes e me deram esta forma humana asquerosa. Acordei numa cama neste mundo, sendo chamado de Maria por auma mulher e seu marido e obrigado a vir. A magia na espada que veio comigo é prova de que falo a verdade, mas faltam-me os meios para achá-la, a minha rainha e meus poderes. Auxiliem-me a recuperar o que me foi tomado, e concederei qualquer desejo que tenham. Minha raça realiza tais pactos desde os milênios passados, e nunca volta atrás com sua palavra.

    Dizia, sério, com a arrogancia que geralmente demonstrava. A falta de medo, com a determinação no olhar do rapaz, talvez fortalecessem a convicção de sua lábia. Quem sabe nao poderia usar aquelas criaturas para atingir seus fins? Sentia certo desgosto por usar métodos de manipulação tão....humanos? Mas nao havia outros meios naquele momento. Tinha que achar tudo o que havia perdido. A espada de anti-magia criada pelo pai em seu auge também poderia vir bem a calhar; já que ela fora capaz de drenar tanto a energia do Doppelganger, teria um efeito desastroso nas maos daquelas mulheres; quem sabe até mesmo desabilitar mais uma permanentemente? Só dera sua falta naquele momento, mas quem sabe ela ja nao teria sido encontrada por alguem? De vez em quando observava João; conhecia-o a pouco tempo, mas sentia certo pesar por sua história trágica. Quase tanto quando sua própria...
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    Mensagem  Artemia Seg Jul 17, 2017 8:19 pm

    Assim que Tetsuya terminou de falar, houve um vagaroso silêncio enquanto as duas mulheres o observavam, pensativas. O próprio João parou de chorar para ouvi-lo. E então, após se entreolharem, as duas mulheres gargalharam alto; Malum chegou a curvar seu corpo para frente e dar um tapa na jaula de Tetsuya, vibrando e balançando de forma desconfortável para o garoto.

    - Veja só, Malum. Temos um "Overlorde" em nossa moradia.

    - Qual é o seu nome mesmo, ó grande demônio, senhor dos infernos? - Malum gargalhou e, antes que o rapaz pudesse responder, ela completou. - Tetinha?

    Mais uma gargalhada enlouquecida de ambas as mulheres.

    Como se não bastasse, Malum deu vários outros tapas na jaula de Tetsuya, a forçando a balançar ainda mais forte de um lado para o outro. Lorna, em contrapartida, havia parado de gargalhar, mas manteve um sorriso debochado em seus lábios finos.

    - Diga-nos, Overlorde. Quer dizer que tem uma espada mágica solta por aí? Hm? E diga-nos também, meu ilustre convidado: o que te faz pensar que te soltaríamos, sendo que nós mesmas poderíamos procurar por essa suposta espada? - Lorna parecia estar sendo ainda mais cínica que antes.

    Malum pôs as mãos em seus largos quadris e encarou João por um segundo, distraindo-se das gargalhadas anteriores. Esticou uma mão e apertou o braço do garoto, fazendo com que ele gritasse de imediato, parando após alguns segundos. O rapaz parecia estar mais assustado do que realmente dolorido.

    Ela, então, se afastou da jaula e comentou:

    - Esse pivete está muito magro.

    - Oras, Malum, de que isso importa? Agora temos dois garotos. E Vex ainda trará a maldita que se atreveu a nos enganar. - Lorna caminhou até o caldeirão, checando seu conteúdo com um certo asco.

    - Dois, três ou não, precisamos engordar esses pivetes antes que...

    - Antes que nada, Malum. - Lorna a cortou com ódio no olhar, ainda de braços cruzados, como se vetasse o que ela poderia dizer.

    Malum, visivelmente temerosa, caminhou até a jaula de Tetsuya. Esticou uma mão e apertou, sem qualquer consentimento, a perna do garoto.

    - Vamos lá, Overlorde Tetinha, me mostre o quão apetitoso você é...

    As mulheres pareceram não apenas ignorar a oferta de Tetsuya, mas também zombar de seus títulos e sua pompa. Certamente seria preciso mais do que isso para convence-las.

    •••

    Em meio aos escombros e à poeira que começava a se dissipar, a dragonesa vermelha, desnorteada em sua própria confusão, demonstrou vontade em querer responder-lhe a respeito dos supostos ovos que pusera, mas nada além de uma fraca fumaça saiu de sua garganta. Nenhuma voz, apenas um silêncio torturante. A dragonesa tossiu e, no canto de sua bocarra, um pequeno líquido roxo escorreu, pingando em seguida.

    Seus olhos esmeralda abaixaram. A dragoa havia gasto muita energia procurando entender o que havia acontecido consigo, e um cansaço começava a surgir, drenando-lhe as forças até mesmo para se levantar. Entristecida, confusa, enraivada. A dragonesa deixou-se consumir em sua própria frustração por um tempo, remoendo em pensamentos, enquanto Venkar caminhava até os escombros à procura de algo.

    Não encontrando, ele conversou consigo mesmo.

    E o que ele conversou despertou na dragonesa um acesso intenso outra vez: recuperando uma energia dita como perdida, ela se mexeu violentamente e bateu com força no galho partido, o quebrando de vez. Tentando se erguer à todo custo, a dragonesa cambaleou, trocando as patas, inquieta com seu próprio peso, procurando imensamente chegar ao encontro de Venkar, caindo nos escombros em seguida, tamanha era sua dificuldade em se mover. Cambaleante, ela tentava gritar, tentava dizer algo, ainda que de sua garganta só saísse fumaça.

    Até que, finalmente, algo saiu. Um som, rouco e frágil. A dragonesa conseguiu alcançar Venkar, pousando sua pata na dele, tentando segura-la com força enquanto o encarava com aqueles imensos olhos verde esmeralda.

    -Ven...

    Ofegante, seus olhos demonstraram o desespero em seu coração taquicárdico. Ela tossiu e tentou mais uma vez.

    - ...kar. Ven...kar.

    Assim que conseguiu falar o que queria, a dragoa não conteve a fumaça em sua garganta, que agora dava lugar à uma forte queimação que surgia de seu peito até sair em forma de uma intensa labareda que ameaçava atingir o focinho de Venkar. Descontrolada, a vermelha cuspiu o fogaréu com força, desesperada por não conseguir parar, por nem sequer saber do que aquilo se tratava ou como havia conseguido tamanha façanha, que queimava não somente o lado de fora, mas também incendiava seu interior.
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    Mensagem  Venkar Seg Jul 17, 2017 8:50 pm

    O jovem dragão negro, Venkar, a observava em silêncio. Preocupação em seu focinho, em relação á fêmea... o que ela teria exatamente? A via tossindo parecendo que queria falar, se comunicar... que esquisito, ela esqueceu como fazê-lo? Talvez entrou muita poeira em sua garganta quando a torre desmoronou. Sim, devia ser isso.

    Quando ela se aproximou e caiu sobre os escombros, o macho se adiantou e a colheu em seus braços musculosos, a olhava de forma preocupado e pareceu perceber o problema dela.

    - Você precisa de água, respirou muita poeira!

    Parou quando ouviu o seu próprio nome sendo falado, com muito esforço, e a ajudou a ficar novamente sobre as quatro garras, acenando o focinho.

    - Isso, assim, mas melhor beb....

    Arregalou os olhos quando notou um brilho incandescente vindo da garganta da dragonesa, e se jogou para trás em desespero! Apesar de seu elemento ser fogo, tinha consciência que não seria agradável experimentar as chamas de um poderoso dragão vermelho. Seu poderio era lendário e não desejava ser o alvo daquela labareda que subia ao céu, até mesmo ultrapassando a camada de nuvens.

    - Ei, calma! Eu disse a verdade quando não queria te fazer mal! Não precisa me tostar!

    Porém percebeu que ela o fazia, não de forma proposital, pelos seus olhos arregalados ela parecia... surpresa! Tinha algo de muito estranho ali... onde estava o corpo de Artêmia, e diante de si uma dragonesa que parecia não ter controle sobre seu próprio hálito mortal, e também não conseguia falar... Isso só significava uma coisa!

    Com certeza algum pedaço de pedra da torre havia caído com força na cabeça da pobre fêmea. E Venkar se sentia na necessidade de auxiliá-la, quem sabe até poderiam se tornar amigos... ou algo mais? O corpo dela era imensamente atraente, e seus olhos, maravilhosos para o macho.

    Se aproximou com cuidado, assim que ela terminou de soprar chamas e falou baixinho.

    - Acho que sei o que houve... você parece ter se esquecido de como falar. Olhe para mim, você precisa fazer este movimento, como se engolisse comida, para comandar o seu órgão-flamejante a parar de soltar fumaça e fogo em sua garganta. Assim.

    Ele fez um movimento com o seu próprio pescoço, o movimentando para a frente e para trás, e um som de glopt se fez ouvir.

    - Ouviu? Agora faça o mesmo. Só depois disso é que conseguirá falar... tente agora.





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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Ter Jul 18, 2017 7:57 am

    - Eu sou um Doppelganger, que derrubou o overlorde prévio, Fuyu. Ou melhor, meu mestre o fez. Uma sombra cujas trevas derrubam um overlorde com facilidade, não teria problema algum em levá-las para o abismo com um sopro. Vocês, o mago de qual falaram, ou qualquer outro ser que exista nesse mundo, na verdade. E acredite, ser devorado por uma de vocês não é nem de perto tão aterrorizante quanto contrariar as ordens de meu mestre, que ficará um tanto...irritado quando souber que três velhas carniceiras tiveram a ousadia de comer um de seus arautos e interromper seus planos. Não sobrará sequer o pó de seus ossos

    Dizia, semicerrando os olhos, ignorando as ameaças. Torcia para que as mulheres soubessem daquela sombra que assolava UOLCity, e talvez até mesmo obter mais informações. Seus traços que lembravam os de Fuyu talvez auxiliassem a se passar pelo doppelganger morto, caso alguma delas o conhecesse.

    - Procurem a espada como quiserem. Não fará diferença que a tenham ou não, quando a ira de meu mestre cair sobre vocês...perguntem a esse tão sábio mago de que falam;
    se ele tiver um minimo de sabedoria, saberá que falo a verdade.


    E riu, provocativamente. Estava fraco, e se agarrava às grades para nao cair ao ser cutucado. Era dificil manter a máscara que vestia, quando lhe faltava tudo para se proteger. Mas a unica coisa que tinha no momento era sua lingua e cérebro.
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    Mensagem  Artemia Ter Jul 18, 2017 9:04 pm

    A chama que a dragonesa cuspiu de sua bocarra persistiu por um bom tempo. A imensa labareda subiu aos céus quando ela ergueu a cabeça para tentar desviar de Venkar. Sua intenção não era de machuca-lo, e isso poderia ser visto em suas tentativas frustradas de desviar do dragão. Até que, finalmente, a dragonesa perdeu todo fôlego que possuía nos pulmões e cessou o fogaréu, restando apenas uma densa fumaça escura em volta deles.
    Tossindo e sem ter como se comunicar, a frustrada dragoa sentou-se em sua própria cauda, caindo para o lado de forma desajeitada. Esticando as patas para a frente, ela recobrou sua posição e seu fôlego após empurrar a cauda para longe. Parecia, realmente, que ela não estava acostumada em lidar com seu próprio corpo.

    Pendendo a cabeça para o lado, ela observou quieta a demonstração de Venkar sobre como deveria estimular sua garganta para falar. Receosa em ter outro ataque de tosse e fogo, ela levou um tempo inspirando e expirando, acalmando seus nervos aos poucos. Lentamente, a dragoa esticou a garganta e engoliu aos poucos a própria saliva, tossindo um pouco ao conseguir.

    A vermelha ergueu o focinho, visivelmente incomodada com algo. Farejava, suas narinas se mexiam, como se captasse aromas novos, nunca antes sentidos. Uma pequena fumaça saiu de suas narinas, como se tentasse expelir o incômodo e, ainda que estivesse mais calma, a dragonesa parecia estar bastante indisposta e estarrecida consigo mesma.

    Contudo, não pôde deixar de se sentir satisfeita com o sucesso em não ter outro acesso de fogo. Ela engoliu saliva mais algumas vezes, quieta, observando os escombros. Venkar não teria notado, mas abaixo de algumas placas de concreto se encontrava o corpo de uma moça loira, cujos cabelos enrolados em volta do pescoço eram mais dourados que o próprio sol.

    A dragonesa ergueu a cabeça para o céu e examinou o solo firme em que estava, sentindo o vento balançar as poucas árvores que restavam à sua volta. Seus olhos fecharam, incomodados com a luz e com a grande gama de informações que ali havia. Com um suspiro, ela verificou mais uma vez seu próprio corpo, comparando-o com o de Venkar à todo momento. Seus brilhantes olhos verdes o fitaram mais uma vez, e dessa vez estavam carregados com um sentimento maior. Seria agradecimento? Sem se mover, a dragoa respirou fundo e engoliu saliva várias vezes até tentar falar novamente.

    - Ven...kar...

    E fechou os olhos, frustrada por só conseguir falar o nome dele. Soltando uma fumaça impaciente de suas narinas, ela voltou a se empenhar em falar algo diferente:

    - Sou... eu. Ar... temia!

    Finalmente havia conseguido! A dragoa soltou mais fumaça pelas narinas, visivelmente aliviada por não tossir, nem sequer repetir o nome do outro dragão, como uma vitrola rachada. Seus imensos olhos verdes o fitariam, esperançosos e ansiosos sobre o que eles fariam a partir dali, denotando o quanto mais ela gostaria de falar.

    •••

    Malum soltou o braço de Tetsuya, aborrecida.

    - Doppelganger, hm? E derrubou um reinado infernal, você diz? E isso tudo com essa magreza!

    - Que eu saiba, Doppelgangers podem assumir diferentes formas. Prove-nos que é um, e te enviaremos para o mago da torre.
    - Lorna empurrou a mulher corcunda para o lado e puxou a gaiola de Tetsuya mais para perto de si, encarando-o com seriedade.

    Restava ao ex vulpino inventar outra desculpa? Como que por um milagre, a porta da casa se abriu com um estrondo; Lorna soltou a gaiola de Tetsuya para verificar o que era: Vex, a mulher gorda, adentrou o quarto carregando um corpo de uma pessoa em absoluto desespero, completamente envolvida em um manto sujo que tapava até mesmo sua cabeça. Parecia uma múmia viva.

    - Cale a boca, sua miserável!


    Berrou Vex, a chutando para o centro da sala. A "múmia" rolou pelo chão, debatendo-se furiosamente em seguida. Malum se aproximou dela, hesitante. Lorna não se moveu.

    - Strictus magnilis... - sussurrou Lorna, esticando seus longos dedos, os meneando como em uma dança suave. O corpo desesperado se acalmou, aquietando-se de imediato.

    As três mulheres encararam a pessoa coberta por alguns instantes. Nesse meio tempo, Vex caminhou até o caldeirão e retirou a colher de dentro.

    Rapidamente, pegou uma tigela de barro e a encheu com o líquido caramelo. Satisfeita, ela caminhou até a jaula de João e empurrou o alimento para dentro.

    - Está na hora de comer. Você está muito magrinho, está puro osso!

    - Não quero! Não vou!

    - Oras, seu moleque...

    Lorna, que até então apenas observava a cena, resolveu se pronunciar:

    - Vex, você terá tempo o suficiente para cuidar disso. Abra o tecido que envolve esta pessoa e deixe-nos descobrir se o tal Doppelganger diz a verdade sobre sua vinda à nossa terra.

    - Doppel... o quê? - Vex começou a caminhar até o corpo, mas não sem antes dar um chute na jaula de João, como prova de sua frustração.

    - Este rapaz se vê como um ser mágico que possui o dom de criar em si mesmo uma cópia idêntica de outros seres. Diz que possui um mestre, um tal de Fuyu, que virá nos punir. E ele espera que acreditemos nesse conto da carochinha...

    Vex rasgou o tecido que cobria a pessoa no chão, revelando quem era: Gaux, a mulher que colocou Tetsuya nesta situação, aquela que havia convencido João de que ele era Maria, aquela que o havia feito andar floresta afora para chegar à um suposto lugar melhor ao lado de um homem com um machado...

    - Onde está o marido?
    - Lorna perguntou, secamente, observando a mulher deitada, completamente amarrada por diversas cordas. Seu olhar estava levemente catatônico.

    - Morto. Encontrei o corpo dele pendurado de ponta cabeça em uma das árvores. As Darkas se encarregaram de tudo, creio eu.
    - respondeu Vex, levantando-se e chutando a jaula de João assim que o garoto começou a gritar ao ver sua mãe. - Quieto, garoto! Coma sua comida e deixarei você falar com sua querida mamãe!

    João ficou quieto e segurou a tigela, a encarando com nojo. Malum, que até então esteve em silêncio, foi até o caldeirão para servir outra tigela daquele líquido caramelizado. Caminhou até a jaula de Tetsuya e esticou para ele o alimento de odor adocicado. O ex vulpino veria não somente um líquido caramelo, mas também alguns pedaços de marshmallow boiando miseravelmente em meio à confetes de chocolate.

    Lorna bateu a ponta do pé na perna da mulher, que a olhou de forma perdida.

    - Gaux, certo? Tudo que eu te perguntar, quero que me responda honestamente. Sua vida depende disso.

    A mulher de voz grave e seca pausou por um instante e continuou:

    - Conte-nos tudo. Primeiro, quero saber o motivo de você ter nos enganado, trazendo dois garotos ao invés de um casal. Por que isso?


    Gaux, ainda deitada, não expressou nada. Ela molhou seus lábios com a língua e respondeu, com a voz rouca:

    - Você não entende. Eu preciso sair deste lugar. Preciso fugir de Fosland antes que seja tarde demais! Então... então uni o útil ao agradável. Fiz um acordo com o mago da torre e consegui o que queria. Finalmente...


    Lorna ponderou por um instante, coçando o queixo com seu dedo longo e fino.

    - Estranho. Me parece que você está encurralada, presa à nós agora. Conte-nos o resto.


    Gaux a encarou severamente, ainda que sua posição não fosse a mais favorável do momento.

    - Meu momento há de chegar. O momento em que fugirei daqui, desta terra amaldiçoada. Supostamente, eu deveria entregar apenas uma garota para as Barregãs, para que elas a preparassem para o dragão da caverna. Mas, graças ao meu acordo com o mago da torre, consegui fazer com que minha amada filha, Maria, não fosse sacrificada. Eu a entreguei à proteção do mago, e, em troca, ele criou um portal que trouxe um outro alguém para a minha casa, para que substituísse a minha filha. Prometi ao mago entregar o João e a impostora à Barregã mais burra, dizendo que queria ofertar meus dois filhos ao invés de um. É claro que ela aceitou.

    A mulher deitada ergueu a cabeça e cuspiu na direção de Vex, que chutou em seguida. Antes que começasse a gritar, Lorna a mandou ficar calada. Gaux riu friamente e continuou sua história:

    - O mago me daria, em troca do segundo filho, minha passagem de saída daqui. E, bem, vejo que João está em boas condições. Veja só, está até comendo!


    Gaux riu e fez uma careta para seu filho. A crueldade da mulher era palpável; ela nem sequer pareceu estar arrependida em vê-lo em prantos dentro daquela pequena jaula.

    - O problema todo foi o engano do mago, que errou ao enviar um garoto insolente ao invés de uma garota qualquer para se passar por Maria. – continuou, observando Tetsuya com desgosto. – Precisei torcer para que a Barregã estúpida não o visse como o que ele é, um garoto nojento!
    Lorna coçou o queixo mais uma vez, interessada. Ela deu um passo para a frente e disse:

    - Então você nos diz que fez um trato com o mago para nos enganar e esperava que não a capturássemos? E também significa que você sabe como sair de Fosland...


    A mulher de voz grave não pestanejou, encarando Gaux com um brilho estranho no olhar.


    Última edição por Artemia em Qua Jul 19, 2017 2:23 pm, editado 1 vez(es)
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    Mensagem  Venkar Qua Jul 19, 2017 2:17 pm

    O jovem dragão negro a observava paciente, ele tinha já percebido que ela não desejava feri-lo com o seu fogo. Esperou alguns momentos até a fumaça escura se dissipar para voltar a se aproximar. Esperou ela engolir e repetir o que ele tinha demonstrado, acenando com o focinho de forma encorajadora. Nem parecia o dragão feroz e selvagem que havia lutado e derrotado o outro bem maior a poucos instantes.

    Notou o olhar dela em seu corpo, e depois ao dela. O que ela estava procurando? Eles tinham praticamente o mesmo tamanho, ele um pouco mais encorpado e musculoso por ser macho, ela mais delgada nos lugares certos. Não podia deixar de apreciar sua aparência, era uma fêmea muito atraente mesmo, ainda mais com aqueles olhos verdes. Era a primeira que tinha os olhos daquela cor que conheceu. Tinha alguém mais que compartilhava a mesma cor... mas no momento sua memória não o ajudava.

    Encorajado pela ausência de hostilidade dela e também pela sua expressão que demonstrava gratidão, o macho se aproximou mais, a farejando rapidamente enquanto ela virava o pescoço para observar seu próprio corpo mais uma vez.

    Quando voltou a encará-lo, ele estava olhando diretamente para seus olhos. Foi então que ouviu ela falar novamente, agora com menos dificuldade, repetindo o seu nome.

    - Isso, este é o meu nome. Respire fundo, assim, logo a fumaça não a incomodará mais.

    Notava que ela estava impaciente, frustrada, mas sabia que não era por causa dele. Então, parou quando ela falou, mesmo com dificuldades, que ela era...Artêmia??

    Venkar ficou quieto, sem se mover durante um tempo, depois olhou para as ruínas da torre, depois para ela. Se lembrando finalmente de quem tinha olhos verde esmeraldas. Era Artêmia! Voltou a encará-la agora com a bocarra aberta, estupefato. Não havia encontrado o corpo dela em lugar algum, nem sentido o seu cheiro de humana nos escombros, mesmo após a poeira toda abaixar... e havia diante de si uma dragonesa que mal conseguia ficar sobre suas pernas, e também não conseguia direito falar, se engasgando com seu próprio hálito flamejante.

    Deu um passo, depois outro, hesitante, repetindo baixinho:

    - Artêmia... é você mesma? Mas... como?

    Cada vez mais acreditava, até que se lembrou que ela é uma maga, uma feiticeira, é claro que ela podia mudar de forma! Então se aproximou mais, com mais confiança e agora um sorriso se formava em seu rosto reptiliano, como se isso fosse possível, com todos aqueles dentões afiados. Mas só um outro dragão perceberia essa expressão.

    - Artêmia! Eu sabia que tinha visto estes olhos em algum lugar! Então mudou de forma para escapar de se ferir quando o dragão a atacou na torre! Muito esperta! E devo lhe dizer... esta forma lhe caiu muito bem, está... está linda!!

    Voltou a ficar de frente para ela, seus próprios olhos negros brilhando de felicidade e aliviados, ela não estava morta, graças aos Deuses! Sem pensar se aproximou mais e roçou o seu focinho no dela, a lateral do mesmo contra o dela, a lambendo sem parar, muito feliz por vê-la são e salva. Artêmia podia perceber pelo cheiro, e se observasse os olhos de Venkar, que estavam úmidos de emoção. Ele realmente tinha pensado que a tinha perdido.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Qua Jul 19, 2017 4:53 pm

    O rapaz, ungido de uma prepotencia e unindo-o ao orgulho que já tinha, aproximou o rosto da jaula, fitando a mulher em ar desafiador

    - Acaso não percebeu que fui amaldiçoado neste corpo humano? Não consegue ver a essencia de minha alma aprisionada neste corpo imundo?

    Dizia, semicerrando os olhos. Com tantos contatos com demonios que tivera, sabia dissimular a atitude de um facilmente. Os mais poderosos sempre se orgulhavam excessivamente, e não se curvavam sob qualquer circunstancia. Mas poderia muito bem ser confundido com os delirios de um louco, é claro. Tentaria dizer outra desculpa, mas seu discurso foi interrompido pela chegada da mulher. Observou toda a cena se desenrolar. Então o tal mago era a chave para sair daquel lugar amaldiçoado. Não se importava de fato com o que aconteceria a Gaux, que acabava por ser a responsável por tudo aquilo.

    Ocasionalmente olhava João com pesar; a criança não tinha uma alma sequer com a qual contar, sua mãe o entregara àquelas abutres, e nao passava de um leitão a ser engordado. Sua frustração foi se somando àquele sentimento indigesto, pegando o pote com doces, e jogando contra Mallum, que ainda estava próxima, quebrando o silêncio.

    Deixava livre sua raiva de tudo aquilo, a frustração de se ver em outro corpo, o ódio fervilhando contra aquelas mulheres e sua crueldade, e o desespero de não saber como Artemia e os demais estavam. Se não fosse suas limitações atuais, suas caudas estariam eriçadas, se agitando furiosamente, e as auras estariam crepitando de fúria.

    -Tolas Barregãs, infeliz mago e amaldiçoada mulher, estarão todos condenados em breve. Devorem este corpo, esta carapaça inutil que prende minha essência milenar, mas saibam que tão logo eu esteja livre, se arrependerão amargamente de vossos atos. Não sabem o mal que invocaram a este mundo, e este erro lhes custará suas almas. Retornarei em breve assim que este corpo definhar, e farei com que se lembrem amargamente de vossa decisão...א׆שתעת׆ש׆غע!!


    Gritava, e terminava com um xingamento quase impronunciável em "demonês arcaico", o conhecimento da lingua talvez sendo o unico resquicio de sua "vida passada" em UOLCity como híbrido.
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    Mensagem  Artemia Qua Jul 19, 2017 8:30 pm

    Artemia, a humana presa agora em um corpo imensamente diferente do seu, sentiu-se mais leve no instante em que conseguiu falar seu nome e obteve a aceitação de Venkar quase que de imediato. Não sabendo exatamente como reagir, a nova dragonesa fixou sua atenção na reação de Venkar: ele parecia estar feliz. E a alegria dele inevitavelmente a contagiou.

    Contudo, o dragão na sua frente pensava que ela havia se transformado por contra própria. Como se estivesse escolhido esse caminho! Por que ela faria algo assim? Sempre gostou do corpo que teve. Não era de se jogar fora, pensou.

    E, no entanto, o dragão estava feliz em vê-la naquela forma. O que era óbvio, afinal, ele próprio era da mesma espécie. Artemia inclinou o focinho para o lado, escutando as palavras de Venkar. Quando ele terminou, ela balançou a cabeça e deu um passo para frente, se esforçando para voltar a falar. Estava tudo incrivelmente aumentado para ela: os sons que ouvia estavam mais claros que o normal, mais altos e próximos. Era como se Venkar estivesse falando ao pé de seu ouvido, embora estivesse à certa distância. O odor do dragão era único, e ela conseguia sentir a agitação dele se mover através de seu aroma! Havia um mundo de informações a serem processadas pela nova dragonesa. E todo aquele mundo caía em si naquele instante.

    Ainda confusa e tentando se adequar à nova forma, Artemia procurou respirar fundo e engolir mais saliva. Fechando os olhos, buscou poucas palavras, porém certas e claras.

    - Não... quis. Dragão... da torre... que fez. Preciso... buscar... cura.

    Ela realmente não queria acabar com a alegria e satisfação de Venkar em vê-la naquela forma, mas jamais sonhara em viver daquele jeito para sempre. Teria de haver uma cura. E ela sabia que o caminho seria em relação àquela gosma roxa cuspida pelo dragão. Sendo assim, ela faria de tudo para encontrar a solução.

    O único problema era que o dragão que cuspira nela estava morto, sem cabeça, logo atrás de Venkar. Seria o único a fornecer-lhes respostas! Uma terrível ansiedade percorreu o corpanzil de Artemia, que sentiu uma pontada brusca na boca de seu estômago. O que era aquela dor? Sua boca ficou seca. A dragonesa encarou o dragão com preocupação quando reparou que estava irredutivelmente faminta.

    - Preciso, antes... comer.

    Fez uma certa menção em se mover e só conseguiu tomar mais um pouco. Venkar precisaria ter muita paciência para a jovem dragonesa aprender a se locomover - quanto mais voar.

    •••

    As mulheres pararam tudo o que estavam fazendo para olhar Tetsuya assim que ele gritou as palavras em demonês arcaico. Até então, suas atenções estavam voltadas para tudo, menos para ele - pareciam pouco se lixar, embora Malum tenha visivelmente se irritado com a tigela derrubada por ele.

    - O que... você disse?

    Era Lorna. Seus olhos, assombrados, o encararam. A mulher até mesmo soltou seus braços, que estiveram cruzados desde a hora em que chegou.

    Vex soltou a tigela que preparava, a deixando se espatifar ao chão, em uníssono com um gritinho fino de Malum.

    Estranhamente, aquilo as havia assustado. Aquelas pequenas palavras sombrias de Tetsuya em uma língua diferente, que mais se assemelhava ao próprio mal personificado.

    E, de repente, um baque.

    Gaux havia se soltado de suas amarras. Estava de pé, segurando um objeto extremamente conhecido por Tetsuya: a espada que seu pai lhe dera. O material puro do objeto se iluminou, e a mulher que o segurava tremia vorazmente, como se o toque ou a proximidade a machucassem...

    - Pega ela!

    Berrou Malum, que se lançou contra a mulher e teve seu estômago profundamente cortado pela lâmina afiada da espada; Vex parou de sopetão ao ver o sangue da irmã jorrar para todos os lados. Malum ficou de joelhos, urrando de dor, apertando o próprio estômago enquanto o sangue escorria. Gaux riu, apesar de suar frio e aparentar uma fraqueza crescente.

    - Qual foi sua última pergunta, Barregã? Que eu não esperava que vocês me capturassem? Oh sim, eu esperava. E como esperava...

    - Onde conseguiu isso? - Vex não moveu nem um milímetro de seu lugar, assistindo os gritos de Malum diminuírem conforme ela escorregava fracamente para o lado e caía em meio à poça de seu próprio sangue.

    - Peguei emprestado quando aquele garoto ali chegou.

    Respondeu Gaux, apontando a cabeça para Tetsuya.

    - Solte a espada e te pouparemos. - A voz imponente de Lorna surgiu logo atrás de Vex. Gaux riu e apontou a espada para Tetsuya.

    - Aquele garoto vem comigo. Nós temos contas a acertar com o mago da torre. Soltem-no agora e eu pouparei vocês.

    Lorna adiantou seu passo, esticou seus longos dedos e murmurou palavras encantadas. Nada aconteceu. Nem sequer um fio de cabelo de Gaux foi afetado. A mulher riu e ergueu a espada, a balançando no ar.

    - Me parece que essa belezinha aqui impede magia. Como pode, né? Uma espada mágica que impede magia! Ha!

    João, que até então esteve mudo e incrivelmente assutado com a mudança brusca de atitude de sua mãe, escolheu o momento para implorar à sua mãe misericórdia.

    - Mamãe... não me deixe aqui... não quero virar o ensopado dessas mulheres más! Me tire daqui, mamãe... não leve a Mari... uh... o garoto! Não leve ele, leve a mim!

    Gaux riu com a garganta seca, cuspindo na direção de João em seguida.

    - Pra quê? Pra servir de peso morto?

    E, fitando o filho de forma severa e gelada, completou:

    - Que vire ensopado então!
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    Mensagem  Venkar Qua Jul 19, 2017 9:05 pm

    Venkar ainda estava bem próximo de Artêmia-dragão, a acariciando ainda muito feliz por ela estar viva, e também por atração. Ela era uma fêmea de sua própria espécie muito atraente, e o instinto começava a tomar conta de suas ações.

    Afastou o focinho um pouco para olhar para ela enquanto falava. Para ele, era natural ela ter escolhido a forma de dragão, a forma mais poderosa e imponente de todas as outras raças, senhores do céu e do fogo.

    Ele ficou a observando se concentrando para falar, e rosnou baixinho, bastante atencioso.

    - Devagar, você precisa se acostumar, engula, isso. Force a sua garganta a parar de expelir fumaça, ou não conseguirá falar.

    Ele parou de falar quando ela respirou fundo e falou, porém suas palavras fizeram o dragão negro ficar calado, a olhando. Artêmia podia notar as pupilas do macho se estreitarem, e ele recuou o focinho como se houvesse sido atingido por um golpe.

    - Não... não quis? Mas... foi o dragão quem fez isso...? Como assim buscar cura? Esta sua forma magnífica não é uma maldição ou uma doença Artêmia !! Como pode pensar isso??

    Ele a olhava, ofendido e ferido, ninguém nunca falara algo assim de sua própria raça... como se fosse uma doença, que precisava ser curada. Ficou a olhando, e deu alguns passos mais para trás, assumindo um ar frio, porém ela podia sentir a dor que ele sentia.

    Como ela podia falar uma coisa dessas, de repente se lembrou de onde tinha vindo, seu próprio mundo, os humanos feiticeiros de lá o deixando aprisionado, e falando que sua raça era a praga do mundo, que só devia ser usada para componentes de seus feitiços, ou como cobaias de seus experimentos.

    Ela não queria acabar com a alegria dele, mas assim como ela veio rapidamente, foi embora tão veloz quanto. Ele baixou o focinho, olhando para a direção do dragão morto, e falou, com a voz partida.

    - Se quer... a cura para o seu estado... que pergunte.. ao dragão... - O viu morto, com a cabeça carbonizada pelo seu hálito mortal. - Devem haver outros que podem... te ajudar... te... desejo... sorte...

    Parou de se afastar quando ela mencionou que tinha fome, queria ajudá-la, mas o que ela falou feriu a sua essência primordial, o comparando á uma maldição. Voltou a se afastar, sem falar nada desta vez, a deixaria com os seus problemas. Não sabia porque a protegeu... deveria deixar o dragão negro a devorar! Pensou irritado e ao mesmo entristecido.

    Artêmia podia observar o único que poderia ajudá-la lhe dar as costas e partir.




    -


    Última edição por Venkar em Qui Jul 20, 2017 4:40 pm, editado 1 vez(es)
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Qua Jul 19, 2017 10:19 pm

    Que terrível mulher. Antes tivesse vindo em busca de seu filho. Mas não; agia somente conforme seus interesses próprios. Não sabia quem de fato era a pior entre elas. No entanto, a espada viera como uma luz no fim do tunel; não só poderia dar fim àquelas criaturas, como poderia talvez usá-la para voltar a seu corpo original. Não sabia exatamente como, mas talvez fosse capaz de quebrar o "feitiço" usado contra si, transformando-o num humano? O tal mago também, um possivel mandante por trás de tudo, poderia ser combatido com muito mais facilidade de posse daquela espada; era a antítese perfeita contra um oponente assim. Na pior das hipóteses, caso Gaux fosse derrotada, teria tambem na espada a comprovação de suas mentiras para as barregãs.

    Conforme sua mente estrategista criava situações e probabilidades, observava a fechadura de sua diminuta cela.Por algum motivo, João começava a reconhecê-lo como um rapaz e não mais como sua irmã; detalhe este que tambem não fugira da atenção de Tetsuya,que apesar de ter pena do garoto, ainda não excluia completamente sua culpa e papel naquilo tudo. Mas deveria manter prioridades. Ainda não poderia sair. Haviam ainda as criaturas invisiveis da floresta, e mais duas barregãs. COm aquele clima tenso pairando na casa de cheiro adocicado, tentaria aproveitar-se para incitar o combate entre elas; desta forma, eliminaria mais alvos. E provocações eram a sua especialidade. Sorriu.

    -Vão deixar uma velha decrépita ameaçar vocês assim? Uma mulher que mal tem fôlego para segurar uma faca é capaz de matar tão facilmente as barregãs? Hah, que piada! Este mundo está condenado por si só! Hahahahaha!

    E gargalhava alto, acentuando ainda mais a agressão ao orgulho e amor próprio das barregãs. Esperava que aquilo as desconcentrasse, deixasse-as mais impulsivas e mais predispostas a erros e falhas.
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    Mensagem  Artemia Qui Jul 20, 2017 4:29 pm

    A dragonesa não pôde deixar de perceber a dor no olhar do dragão, cuja reação fora a pior possível: além de não deixa-la se explicar, saiu caminhando, ferido, dizendo adeus sem nem ao menos ouvir uma resposta.

    Frustrada e entristecida por ter ofendido seu único amigo naquele momento, Artemia cambaleou para os lados, ainda não muito segura de seus passos naquele imenso peso corporal. Precisava alcança-lo. Não poderia deixa-lo sair assim, dessa forma!

    - Venkar!

    Gritou, sua voz retumbante e poderosa em meio a um desespero que já tomava vida novamente. A dragonesa caminhou com mais firmeza conforme sentia seu coração pesar com a dor de ter ferido o amigo. Assim que o alcançasse, sem tanto sofrimento como antes, Artemia tocaria em seu braço musculoso, tentando acalma-lo.

    - Não acho... que seja... maldição. Tampouco doença. Só... não estou acostumada. É difícil controlar... as sensações...

    Fumaça saiu novamente de sua bocarra, causando uma tosse que durou alguns segundos. Algumas pequenas faíscas de fogo piscaram em meio à nuvem que se formou durante a tosse. Assim que recuperou seu fôlego, Artemia seguraria com ainda mais firmeza o braço de Venkar, o encarando com imensos olhos verdes brilhantes.

    - Na verdade... acho isso... incrível. Estou confusa sobre... o que houve. Não pertenço... à esse lugar. Nem você. Me parece... perigoso.

    A dragonesa fez uma pausa, observando os arredores, parando seu olhar no dragão sem cabeça que jazia ao chão.

    - Entenda... por favor. Eu nasci humana... vivi sempre com... aquele corpo. Minha essência... minha vida... sempre foi aquela. Você nasceu.. dragão. Viveu sempre... como dragão. Se te transformassem... em qualquer outro ser... por maior e mais poderoso que fosse... você ficaria confuso. Tão confuso quanto eu...

    E, não querendo que o dragão à sua frente se ofendesse ainda mais com seu querer em mudar, apelou:

    - Gostaria de saber se existe... um meio termo. Se eu pelo menos... poderia voltar... de vez em quando... à minha antiga forma. Assim... não deixaria de ser inteiramente... eu. E poderia... me acostumar com a mudança aos poucos. Entende?

    A dragonesa suspirou, erguendo o focinho lentamente, tocando sua ponta na lateral da cabeça de Venkar, em um gesto gentil e afetuoso.

    - Obrigada... por ter me salvado. Mas... não vá embora. Por favor.

    •••

    - Ele tem razão! Nós somos as Barregãs, e essa imunda é só uma humana fraca!

    - Vex, não!

    Vex, em um ato impulsivo, puxou o caldeirão o qual estava carregado com o líquido doce e fervente, e o derrubou ao chão: o conteúdo viscoso rapidamente invadiu o solo, o vapor adocicado deixou uma neblina no ar; Lorna saiu de perto para que seus impecáveis sapatos não se sujassem. Como se não bastasse, a mulher gorda, enfurecida, chutou o caldeirão na direção de Gaux, e o imenso recipiente rolou perigosamente até que ela conseguisse dar um salto para o lado e se safar.

    Contudo, a distração serviu para que Vex a alcançasse, socando seu rosto e tomando a espada de Tetsuya para si.

    Gaux caiu de joelhos. Lorna assistia tudo de braços cruzados. Vex segurou a espada e a ergueu por dois segundos até ter seu corpo subitamente tomado por chamas.

    Gritos incessantes de desespero saíram dos pulmões de Vex, que largou a espada e correu para todos os cantos da casa, batendo violentamente contra as paredes e móveis; a labareda imensa que tomava seu corpo rapidamente cresceu e se dispersou pelos móveis da casa de madeira.

    Rapidamente, o ambiente foi tomado por uma fumaça incrivelmente escura e tóxica. João berrou de sua jaula, agitado como um macaco preso; Lorna corria atrás de Vex e tentava apagar o fogo com a mágica de suas mãos.

    E, de repente, a jaula de Tetsuya foi de encontro ao chão, se espatifando à toda velocidade. A queda certamente o machucaria, mas nada tão grave a ponto de deixa-lo inconsciente. Em meio ao fogo e ao desespero de Vex, Lorna e João, Tetsuya ouviria um som metálico de corte em sua jaula. A densa fumaça o faria tossir, e ele pouco enxergaria no ambiente nebuloso.

    Uma mão segurou seu pulso.

    Em um piscar de olhos, Tetsuya se encontraria deitado em um piso gelado, negro como a noite. O fogo e a fumaça tóxica na casa das Barregãs o deixariam ainda desnorteado. Seus olhos demorariam ainda a se acostumar com o ambiente extremamente iluminado onde estava: a luz era tão intensa, que parecia cega-lo.

    À sua volta, notaria que estava em um quarto branco, de piso escuro, cujas paredes não exibiam uma só sujeira. A luz, intensa e vertiginosa, não possuía um ponto de foco - estava espalhada pelo quarto sem janelas. Havia um sofá no centro da sala, branco e impecável como todo o ambiente.

    Tetsuya também notaria a existência de três portas, uma em cada extremidade do quarto, discretas em meio à excessiva luz. Não havia nada de diferente entre elas, com exceção do que havia abaixo de suas soleiras: a porta da esquerda emitia uma luz clara e aconchegante. A soleira da porta do meio deixava transparecer uma luz vermelha e perigosa. E, por último, a porta da direita estava com sua soleira sem luz alguma - havia apenas escuridão e nada mais.

    O teto era alto como o de uma torre. E Tetsuya, sozinho naquele quarto gelado, parecia estar longe, muito longe das Barregãs.
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    Mensagem  Venkar Qui Jul 20, 2017 5:24 pm

    Andava para longe de Artêmia-dragão com o focinho cabisbaixo, infeliz. Pensava que Artêmia podia ser diferente, como sua outra amiga. De repente seu coração se apertou, se lembrando da raposinha. Onde ela estaria? Estaria em segurança? Seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu o grito de Artêmia chamando seu nome.

    Parou, sem se virar ainda, deveria ajudá-la? Ela é uma simples humana, que não sabe valorizar o presente incrível que recebeu... algo que deveria ser curado, como se fosse uma doença, uma maldição. Deveria matá-la por ousar pensar algo neste sentido. Dragões eram o ápice da natureza, os senhores do céu, e do fogo. As criaturas mais próximas dos Deuses! A primeira coisa que veio em sua mente... procurar uma cura... voltar para seu corpo humano frágil e patético... Humpf.. desperdício.

    Ele não se virou, ainda estava de costas, olhando para a frente ou para o chão, diante de si. Só olhou para ela quando Artêmia tocou o seu braço. Apenas não deu um empurrão para que ela o soltasse pois viu tristeza e desespero em seus bonitos olhos verde esmeralda.

    Não a respondeu, notando que ela ainda tinha dificuldade de falar por causa da fumaça e gases quentes que saía de sua garganta, estreitou os olhos, que morresse engasgada! Pensou irritado.

    A olhando, procurando se ela falava aquilo só para se desculpar, ou se pensava aquilo mesmo. O argumento de que nascera humana, e estava acostumado fazia sentido. Ela recebeu um corpo muito melhor, mais forte, poderoso, resistente, vida longa. Seus olhos voltaram ao normal quando ela mencionou se ele fosse transformado em humano, é claro que odiaria. Então... relutante começou a entender a situação dela. A ultima frase dela não fazia sentido, não havia nada maior e mais poderoso do que dragões.

    Finalmente cedeu, sua expressão deixou de parecer dura e piscou uma vez, a olhando melhor. Ela não queria ofendê-lo, compreendeu. Ela queria voltar a ser humana novamente... mas achou graça em sua tentativa de agrada-lo, e acenou com o focinho.

    - Entendo.

    Falou simplesmente, e se surpreendeu quando ela roçou o seu focinho no dele, que a princípio não retribuiu o gesto, mas logo cedeu e ele começou a fazer o mesmo. Instintivamente enrolando a ponta de sua cauda na da fêmea.

    - Tudo bem... eu não irei embora. Acho... acho que entendo...

    Ele afastou um pouco o focinho dele do dela e falou baixo. Seguindo andando, na direção da vila que aparecia no horizonte. Ela podia notar que ele não estava tão entusiasmado quanto antes, demoraria para esquecer as palavras que o feriu e ofendeu, mas pelo menos era um começo positivo.

    - Vamos andando.



    -
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Sex Jul 21, 2017 9:07 am

    Tetsuya observou àquilo, atônito. Imaginou que houvesse uma espécie de "trava de segurança" na espada, mas o artefato ainda lhe era um completo mistério, além do fato de absorver magia.Mas até então, imaginava que apenas a lâmina tinha esse efeito; aparentemente seu pai fora mais cuidadoso do que imaginou. Observava com certa satisfação em ver que mais uma barregã estaria eliminada em breve. Ou no minimo, severamente ferida por aquelas chamas. Chamas....não lhe assustavam tanto quanto antes. Mas logo percebeu seu erro, ao sentir o cheiro de carne putrida queimada. Começou a tossir, cobrindo o rosto com a mão, puxando a blusa para perto do nariz. O cheiro doce do caldeirão somado à carne da barregã deixava um odor doce nauseante no ar...

    -João, tente fug...cof....!

    E sentiu seu corpo pender para o lado, batendo o ombro e quadril com força na lateral da jaula que caíra. AInda estava enfraquecido, e não completamente recuperado da hipotermia prévia. A visão era embaçada pela falta de ar, e pela fumaça em si. Tentou esticar a mão para se arrastar dali, até sentir o pulso ser segurado. Tudo estava escuro. Nao sabia se perdera a consciencia ao reabrir os olhos e ver-se no ambiente repleto de luz.

    Cobriu os olhos com as mãos por algum tempo, até os olhos se acostumarem com a luminosidade excessiva.

    -Artemia?....Pai?....João...??

    Tentou chamar por algum conhecido, esperançoso de estar de volta ao seu lar. Palpou a cabeça; ainda faltavam-lhe as orelhas vulpinas, ainda estava naquele mundo amaldiçoado. Suspirou. Aos poucos, reuniu suas forças para se levantar, observando o ambiente ao redor. Lembrava-se dos enormes salões celestiais, impecavelmente brancos e limpos, irradiando luz. Mas não sentia tanta nostalgia assim.

    Observou atento a cada porta diante de si, atento à soleira de cada um. Precisava sair dali, onde quer que fosse. Talvez por um instinto primitivo, um contato maior com os habitantes do céu e a presença confortadora da mãe, falecida, buscou a cálida luz aconchegante da primeira porta. Receoso e desconfiado, abriria-a lentamente, observando atento pela fresta que abria-se aos poucos.

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