O reploid apenas acenou com a cabeça, mas quando Axle começou a se afastar, pareceu retirar um pequeno chip, antes encaixado sob um dos cristais amarelos sobre o ombro.
-Espere, garoto. Tome isso. É a versão que tenho do virus Delta. Não costumo ajudar sem nada em troca, mas ultimamente tem sido mais e mais raro encontrar um de nós...e você parece inexperiente e fraco demais para sobreviver por muito tempo como está. Instale-o novamente, talvez isso resolva seu problema. Assim, algum dia eu te cobro esse favor.
E deixou o chip sobre o balcão do bar, para que Axle o pegasse. Era algo realmente muito tentador...e ao mesmo tempo perigoso. Axle ja sabia do efeito do virus Sigma em si, mas o que aquele virus faria consigo, se decidisse usá-lo? De qualquer forma, sua encenação de novato parecia ter funcionado excepcionalmente a favor do Vermelho.
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Tetsuya ficou ali apoiado, respirando fundo. E foi justamente numa dessas inspirações profundas que a calça e kimono caíam sobre seu rosto, impregnando-lhe o olfato com o cheiro da maga. Bateu a cabeça com força para trás, como se um soco lhe fosse desferido direto no peito; algo que sequer abalaria a porta de ferro do cubiculo em que a ruiva se banhava. Tetsuya curvou-se para frente, com as mãos sobre a nuca, massageando e resmungando algo baixo. O aroma não saia das narinas...parecia ter enraizado-se nos cantos mais obscuros de sua mente.
Foco! Estava ali para secar as roupas; assim os fez.Pegou os trajes de Artemia, o rosto ardendo conforme o cheiro e a memoria se uniam contra ele, e com cuidado congelava as particulas de água dos trajes, incluindo as botas. Uma fina neve se formava, que facilmente escorreria do tecido, secando-o. Inevitavelmente, começava a formar uma imagem mental das curvas que sua memoria desenhava, com a ausencia daqueles trajes. Seu corpo reagia de forma indesejada, que ficava mais evidente ainda no corpo masculino; sentia a calça desconfortável, enquanto tentava ajustar um volume que se fazia ali, inquieto. Como podia ter aquele tipo de pensamento! Com certeza era culpa daquela aura demoniaca que ele era obrigado a exalar. Tudo fazia sentido agora! Demonios horriveis, perversos, malignos, lascivos...estava sendo influenciado por aquilo, só podia!
Mas por que a sensação era tão boa? Nao era aquilo algo pecaminoso de se pensar? Deveria estar se sentindo péssimo, e não...flutuando, leve, atraído...atraído!?!Antes que pudesse pensar mais sobre a auto-analise que fazia, a porta se abria atrás de si. Distraído, sequer parecia ter se atentado ao fim do banho e com a abertura da porta; seu corpo empurrou a porta para trás, fazendo-a bater com força sobre a parede de granizo. Artemia ficaria completamente exposta, nua, antes que pudesse fazer algo, o raposo iria se aproveitar, provavelment ela pensaria.
Mas não; Tetsuya quase que por impulso estendeu os braços pros lados, segurando os dois lados do encaixe da porta para não cair sobre a garota, e as caudas subiram rápido para ajudar no equilibrio. E neste subir, deslizaram sobre a parte interna dos joelhos da ruiva, ascendendo pela parte interna das pernas, virilha e pelas intimidades da garota, subindo pela barriga e entre os seios. Deslizavam rapidamente, os pêlos macios como seda deslizando pelas curvas úmidas da ruiva...
Tetsuya obviamente nao teria a sensação de tato pelas caudas devido ao grande volume de pêlos, ao contrário de Artemia que sentiria absolutamente tudo. Mas era perceptivel que nao fora intenção do raposo; realmente tentara manter a integridade de não olha-la. E sequer desconfiou do que acontecera, uma vez que puxou a porta com uma das caudas rapidamente, dando-lhe privacidade. Entregou as roupas por cima da porta, e aguardou que ela se trocasse.
Quando ela saía, os olhos se dilatavam, ainda mais ao ouvir-lhe o pedido. O coração saía pela boca, sentindo-o disparar novamente. Era impressão ou a calça da ruiva estava mais apertada e justa no corpo? E pensando na calça, voltava a notar quão desconfortavelmente inquieta estava a própria; uma das caudas começava a cobrir-lhe a região pubica, tentando disfarçar o volume. O movimento da cauda acabava por chamar a atenção para a região, infelizmente...Mas tentou fingir que nada havia de errado. Quando Artemia sentou sobre o granizo, sacudiu a cabeça tentando despertar.
-E-erm...c-claro, f-foi o que eu disse, não foi?
E se aproximou novamente. Pegou a bota que ainda não havia calçado, e com a outra mão passou em torno do tornozelo da ruiva, deslizando-o até o calcanhar, por onde apoiou o o pé. E com cuidado, calçou-lhe a bota que restava, ajustando-a, lentamente. O cuidado e a velocidade lenta com que fazia aquilo parecia um gesto carinhoso, completamente inesperado para alguem tão resmungão e explosivo quanto o vulpino, cujo hálito quente soprava sobre o pé descalço e umido da ruiva, um gesto que fazia de forma inconsciente. Ao seu ver, apenas calçava-lhe a bota para secá-la como um todo, de uma vez só, e não percebia o desejo interno de fazer aquilo de fato.
Pouco a pouco, uma brisa fria passou a se espalhar do calcanhar da ruiva, subindo-lhe por todo o corpo; a brisa ia cristalizando a água de seu corpo em finos flocos de neve, que repousaram sobre sua pele alva. E numa discreta lufada, a neve era soprada para longe, soprando os cabelos ruivos para trás, enquanto Tetsuya erguia o olhar de encontro aos dela. Ficaria assim por alguns segundos, quase que hipnotizado, até cair em si mesmo e soltar bruscamente o pé da ruiva, virando as costas e cruzando os braços. Numa nuvem de nevasca que o envolveu, voltou à forma feminina de antes.
-H-hmpf...s-sua folgada. V-vamos logo, s-sua t-tarada de uma tigela e meia!
E ao se lembrar de algo, franziu a testa, colocando as maos na cintura, e apontando para a ruiva, em direção a seu rosto. Agora naquela forma feminina, enverginhada, estava com uma expressão adoravelmente irritada e ciumenta. Mas a raiva parecia sobrepor em MUITO a vergonha.
-E pare de ficar dando mole pro barman!! estamos aqui para extrair informação, não um encontro com ele!....NÃO QUE ME IMPORTE! - corrigia rapidamente, num susto que a fizera se exaltar no tom de voz, e logo re-corrigiu- mas estamos perdendo tempo precioso!!
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Jasor veria, apenas as ultimas cenas, mas o bastante para desconfiar do incidente envolvendo o rapaz que virara lobo e saíra da boate. Era ele ali, calçando a bota na ruiva! Mais estranho ainda era a transformação que realizava, virando aquela loira devassa que entrara com ela. O que estava havendo? Talvez....entre as duas garotas, uma delas conseguiria transformar-se num homem e "satisfazer" a outra de forma que seu corpo feminino talvez nao permitiria? Era provavelmente o pensamento mais claro que lhe viria à mente. Era melhor conceber isso do que o contrário, o de um homem se passando por mulher.
Ouviria ainda a primeira frase da loira, aconselhando a ruiva sobre estar dando mole ao barman. Mas antes que pudesse ver/ouvir o resto da frase, uma outra voz feminina lhe aproximaria ao ouvido; era outra garota, também com caudas!
Lá no balcão, o oriental se levantava, ainda atordoado, se apoiando na cadeira e balcão. Era um sujeito baixinho, mais velho, num terno preto de gravata vermelha. Ajustou o par de óculos, agora quebrados, no rosto, limpando as marcas da sola do barman do rosto. Semicerrava os olhos, olhando Jasor à distancia. Aquilo não iria ficar assim, com certeza não, o oriental repetia-se mentalmente.