Tudo ficou quieto, deixando transparecer apenas o leve som de arrastar da lava que ainda escorria pelo chão. Artemia fechou os olhos, tapando-os com as mãos frouxas, hesitantes. Respirou fundo mais uma vez quando viu Tetsuya cambalear para trás e cair, sem fazer menção alguma de se levantar.
A ruiva sentia-se o pior dos seres, naquele momento. Havia partido o coração do vulpino, destruindo a confiança que ele tanto demorou em adquirir. Toda a verdade havia caído como um peso de mil toneladas em seus ombros, aliviando os de Artemia, que agora sentia-se mal por ter tido tal atitude. Seu amor por ele não a impediu de dilacerar seu coração e acabar com suas esperanças.
Ao menos, pensou, ele agora sabia tudo sobre Fuyu. Sabia que tinha como pai um bondoso Overlorde, digno de respeito e admiração. Sabia, também, que ela e Axle o protegeram durante todos os momentos, salvando-o de dentro do solitário cristal, moradia agora de seu pai.
O coração de Artemia também estava dolorido, partido em mil pedaços. Ver Tetsuya naquele estado a deixava em um misto de infelicidade com frustração. Ainda assim, não se sentia totalmente culpada, afinal, tentou seguir os conselhos de Fuyu e Axle, dizendo a verdade a Tetsuya quando ele estivesse preparado: ou, nesse caso de agora, quando não houvesse outra saída, a não ser conta-lo. O que mais ela poderia ter feito?
- Me desculpe, por favor. Acredite em mim, eu só queria te proteger... – suspirou ela, ajoelhando-se em frente a ele, ousando tocar levemente em seu braço. – Quando sairmos daqui, você pode ter a confirmação disso tudo com o anjo, Ryan. Infelizmente... infelizmente, Axle deve estar... m-morto. – Artemia fechou os olhos ao dizer essa verdade, que tanto doía em seu peito. Porém, continuou a tentar convence-lo de sua honestidade. - Se quiser como prova, podemos voltar ao Bunker, onde todos ali de dentro sabem de tudo. Todos viram o Doppelganger, e como minha flecha o matou. Todos ouviram Fuyu contar sua história, e todos presenciaram a nossa entrada no cristal, para te tirar de lá. Podemos até mesmo tentar voltar para dentro dele, para que você converse com seu pai...
Ela dizia com toda certeza que havia em seu coração em chamas. As lágrimas agora escorriam livremente, descendo languidamente pelo seu maxilar. Seus olhos esmeralda refletiam um brilho desesperado, ansioso. A ruiva tentava alcançar Tetsuya, explicar melhor o quanto estava sendo sincera. Sabia que ele não confiaria mais nela. Droga! Estragou tudo!
- Por favor, por favor... não contei porque você... você não acreditaria! Estava agressivo demais! Mal podia ouvir o nome “Fuyu” sem entrar em um estado automático de fúria. – Artemia perdia um pouco do controle que conseguira manter, até então. O desespero tomava conta de sua mente, deixando-a em um estado de nervos sem igual. Pensou em Axle, e o quanto queria que o reploid estivesse ali, sempre calmo o bastante para assegura-la de que tudo ficaria bem, embora soubesse que isso seria impossível.
- Eu... eu... estava esperando você se acalmar sobre o Fuyu... ele próprio estava esperando isso! – e então lembrou-se repentinamente do que o casal havia dito antes. – Eu não sabia sobre Yumi ser sua irmã! Talvez nem ela própria saiba disso tudo. Preciso contar a ela também...
Mais uma vez, o encargo de contar “verdades” ficava sob a custódia de Artemia. A ruiva abaixou a cabeça, passando os dedos da mão entre seus cabelos, jogando-os para trás. Ela respirou pesadamente: era como se suas energias estivessem diminuídas com tudo aquilo. O que aconteceu? Estava ficando cansada. Isso era normal?