Neo City Uol

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O que aconteceu após o golpe militar de 17 anos atrás...


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    Primeira parada: A vila

    Tetsuya Kitsune
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Dom Out 09, 2016 11:40 am

    Sussurro foi praticamente arrastado pela garota; como era de se esperar, o corpo magro e esguio era leve, muito leve, e ofereceu pouca resistencia. Aos tropeços, ele foi sendo puxado por Teeran até chegarem ao próximo vagão.

    Este novo vagão era relativamente muito simples: dos 50m de vagão, cerca de 10 portas amplas de cada lado, de quase 2,5m de largura estavam escancaradas. Pequenos trilhos metálicos acima e abaixo faziam-na deslizar lateralmente para fechar novamente, caso fossem puxadas. Uma espécie de carpete vermelho se estendia por todo o chão. A ornamentação do restante era bastante genérica, feita do aço negro retorcido estilo renascentista, adornando a madeira nobre que revestia o interior e teto. Candelabros nas paredes e abajures no teto brilhavam, as chamas azuladas iluminando o final da noite. Pela porta, Teeran veria o sol começar a se erguer por trás de planaltos rochosos cobertos em neve, a luz dourada fracamente brilhando como uma estrela por trás de pesadas nuvens obnubilando todo o lugar.




    (Musica ambiente para ir escutando para sentir a vibe da nova ambientação: )


    Não estava mais na cidade. Ou pelo menos, não mais em UOLCity: o chão coberto pela neve, com troncos de arvores secos e cobertos pela neve estendiam-se por toda a visão. Pareciam estar no topo de um planalto abandonado, de um ponto alto podendo avistar alguns trailers enferrujados, estacionados proximo a cerca de 30 casas de madeira de aspecto europeu antigo, com tábuas de madeira cobrindo as janelas e portas. Pequenas cercas rodeavam cada casa, individualizando e afastando uma da outra, quase como se tivessem aversão à vizinhança. Uma espécie de silo metálico estava completamente tombado, a parte superior aberta e exibindo seu interior à Teeran, onde um amontoado de móveis velhos parecia fazer um abrigo improvisado, agora habitado apenas por neve que começava a entrar.

    Edificios um pouco maiores se distinguiam dos demais, entre eles o que parecia ser uma escola infantil/creche, uma igreja, um tipo de delegacia e um pequeno hospital/centro de saúde. Apenas 4 ruas de terra batida se cruzavam pela vila inteira, numa espécie de jogo-da-velha.

    A escola era rodeada por uma pequena mureta de pedras, até a altura da cintura, pintada com desenhos à mão feito por crianças. As figuras deformadas pela falta de técnica, somadas ao borramento pelo tempo e intempéries davam um aspecto sinistro aos desenhos, com pessoas demasiadamente longas, brancas, os olhos pintados do mais puro negro. O pequeno hospital era cercado por uma das unicas cercas de aço, retorcido, alto, com várias concavidades para dentro, como se algo tivesse tentado sair de dentro à força. Marcas avermelhadas no metal deixavam em duvida se tratava-se apenas de ferrugem ou alguma outra coisa. A igreja e delegacia faziam parte do mesmo edificio, aparentemente um edificio fora aproveitado para originar o outro, deixando à delegacia uma torre com sino como herança.

    Em torno da "vila" de aspecto abandonado só se avistariam rochas, montanhas e plantaltos de terra gelada, tomado por uma floresta morta coberta pela impiedosa neve. Não muito longe dali, uma enorme fissura na terra - uma espécie de canyon -  se estendia até onde a vista alcançava. Circundando o restante da vila, os plantaltos - sobre um dos quais Teeran se localizava -  e morros faziam uma parede natural, mas também só permitiriam luz solar direta apenas quando o sol estivesse a pino, ao meio dia. Conforme Teeran gastava algum tempo avaliando o cenárioe a vila "no buraco entre planaltos", notaria o cachecol leve, vermelho-vivo pendendo em sua mão. Não havia sinal de Sussurro. Por sorte não estava nevando, sequer ventava; era como se o proprio vento da região estivesse morto, abandonando a casca seca na forma daquela pequena vila.

    "FUOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOMMMMMM" - o apito do trem anunciava. E imediatamente, duas portas na extremidade oposta se fecharam sozinhas com bastante força, reverberando de forma agressiva o som metálico. Provavelmente em breve o trem voltaria a viajar, para sabe-se lá quando fazer sua próxima parada.


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    Última edição por Tetsuya Kitsune em Ter Dez 06, 2016 10:25 am, editado 1 vez(es)
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    Mensagem  Teeran The Bug Seg Dez 05, 2016 3:40 pm

    Teeran nem sequer observou direito o vagão novo que se abria à sua frente. Tudo o que ela queria era sair daquele trem amaldiçoado e voltar para a terra-firme. Puxando Sussurro e seguindo o garoto, a morena se jogou para fora vagão e rolou pela neve fofa, gemendo baixinho. Na realidade, ela não precisaria se jogar daquela forma agressiva, mas sua ansiedade e pressa em sair sem ser impedida a levou à esse extremo.

    Apoiando uma mão na neve gelada, Teeran se ergueu aos poucos, reparando no local onde estava: uma espécie de vale, uma elevação sobre o que parecia ser uma cidade abandonada. Ela nem sequer reparou na sua própria solidão; seus olhos percorreram toda a extensão de neve, se atendo à pequenos detalhes, como o silo abandonado, as grades retorcidas do hospital, os desenhos nas paredes da escola...

    Onde estava? Nunca havia visto um lugar como aquele, a não ser em seus pesadelos quando criança. Por que o trem parou ali? Quem ele pretendia pegar? Não parecia haver nem sequer uma viva alma naquela terra sem vida. Um calafrio perpassou sua espinha ao imaginar o que aconteceu aos moradores, visto que sua experiência no trem lhe rendeu um conhecimento maior acerca de criaturas malignas e sombrias.

    - Onde estão todos... Sussurro? – murmurou ela, virando-se para falar com o pálido rapaz. Porém, não havia nada ali além do trem e seu costumeiro apito. – Merda!

    Praguejou, segurando o cachecol com força. Por que Sussurro sempre some nos momentos mais cruciais? E onde está aquele garoto que saiu correndo do trem...?

    Ansiosa e angustiada, Teeran precisou tomar uma grande decisão: ou voltaria para o trem, onde definitivamente não havia segurança... ou seguiria em frente àquela vila, em busca de alguém para pedir ajuda.

    Ao final da dúvida excruciante, a morena decidiu mover suas pernas para a frente, deslizando na neve para descer pelo morro e seguir pela cidade. Jamais se perdoaria se voltasse para o trem sem investigar o lado de fora antes. Olhou para trás mais uma vez; de alguma forma o trem lhe trazia a confiança de que se precisasse fugir de algum perigo, ele a socorreria...


    (Cruzes, Johnny! huahuahauhs que medo ouvir isso enquanto lia. Desculpe pela demora! x_x)
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Ter Dez 06, 2016 10:42 am

    A figura do garoto pôde ser vista novamente, tão logo Teeran se aproximasse da extremidade do morro. Ele parecia deslizar pela neve quase como um tobogã, por entre alguns troncos secos aqui e ali. Sequer olhava para trás; parecia mais ansioso que ela para ir para o mais longe possivel do trem.

    Quando Teeran fez o mesmo, pouco a pouco notaria o sol ficar cada vez mais fraco, oculto pelos morros e montes de neve. O céu nublado, com pesadas nuvens cinza-escuro contribuiam para escurecer ainda mais o lugar, deixando a cidade numa espécie de penumbra. O trem também ia sumindo de vista, por cima do morro pelo qual ela descia.

    Quando ela chegou finalmente lá embaixo, o garoto já havia desaparecido por entre as estradas e casas do lugar. O silo que havia visto anteriormente era a construção mais próxima, talvez a uns 20m dali, tombado. Ao seu lado, a estrada de terra coberta pelo gelo começava a ir para frente, rumo à vila. Caso desejasse, poderia também ir pela periferia, circunscrevendo a  vila; á direita encontraria a grande depressão e à esquerda a floresta, que mesclava-se parcialmente com algumas casas mais afastadas. Arbustos e galhos secos, de uma madeira escura, faziam companhia às arvores decíduas de troncos espessos e altos, que àquela estação nao apresentavam uma folha sequer.

    O cachecol vermelho-vivo parecia ser bem leve, mas provia um toque macio, como seda, embora fosse dificil dizer que tipo de tecido se tratava. Parecia ter sido dobrado sobre si mesmo várias vezes para dar um pouco mais de volume; o tecido em si era um tanto fino.

    (sem problema XD atualizei o link pq parece q o antigo expirou....se quiser ir ouvindo a musica enquanto lê os posts tbm pode, ajuda a sentir o clima do lugar....é tipo a "musica tema" da vila @.@)
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    Mensagem  Teeran The Bug Qua Dez 07, 2016 2:49 pm

    Teeran observou o garoto sumir ao longe enquanto ela deslizava pela neve, descendo morro abaixo rapidamente. O céu escurecia de forma assustadora, causando um tremor na morena muito maior do que o frio que a cercava: uma pequena névoa se formava em frente à sua boca, denunciando a baixa temperatura em que estava. Ofegante e com a adrenalina em alta, ela terminou de descer o morro, cambaleando para a frente e pousando suas mãos nos joelhos.

    Havia um silo à vinte metros de distância, aparentemente tão abandonado quanto todas as outras construções ali. Um abrigo, talvez? Teeran não iria até ele, não agora. Ela ainda ansiava descobrir alguma alma viva naquele local sombrio, alguém que pudesse ajuda-la. Ainda que fosse uma criminosa fora-da-lei, Teeran sabia que não era de seu merecimento ter sua vida tirada em um local tão inóspito. Seus pais nunca mais a veriam, nem sequer teriam a oportunidade de jogar flores em seu túmulo...

    Sacudindo tais pensamentos para longe de sua cabeça, Teeran optou por caminhar rumo à vila, direto pela estrada de terra coberta de neve. Seus passos pesados certamente denunciariam sua localização, que poderia muito bem ser inoportuna para qualquer um que vivesse isolado naquele lugar ermo. A morena decidiu vestir o cachecol de Sussurro, a fim de tampar-lhe um pouco do frio rigoroso, enrolando-o em seu pescoço e cobrindo até sua boca. Com as mãos nos bolsos de suas calças, ela continuou sua caminhada, não parando enquanto não encontrasse algo de seu interesse.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Qui Dez 08, 2016 2:42 pm

    O cachecol macio pareceu se desdobrar um pouco, quase deslizando por si proprio, de forma que cobriu também o torax superior, ombros, pescoço e cabeça. Apesar de fino, era inesperadamente útil contra o frio e confortável, de alguma forma retendo o calor e impedindo-o de esvair do corpo de Teeran. Talvez fosse feito de algum tipo de microfibra? pela forma como mantinha intensa sua cor, deveria ser um tecido bem caro. Poderia talvez desdobrar o cachecol por inteiro para se cobrir melhor, embora a sátira com chapeuzinho vermelho naquele ambiente sinistro rodeado por árvores secas fosse quase um humor negro.

    Conforme se aproximava mais das casas de aspecto abandonado, notaria que a primeira casa à esquerda da rua parecia emitir uma luz fraca, oscilante, típica de uma pequena chama, provavelmente uma vela. A luz mal conseguia sair por entre as frestas da janela coberta por uma barricada de pranchas de madeira pregadas, como uma vã tentativa de manter o frio do lado de fora. A porta era deslocada do seu eixo, de forma que a simples trava metálica interna não fazia muito bem sua função; um esbarrão mais forte seria capaz de abri-la. O espaço deixado por esse deslocamento também permitiria a qualquer um ver o que se passava ali dentro.

    Talvez as outras casas também fossem ocupadas naquela vila, mas só uma aproximação maior poderia permitir a confirmação.

    A primeira casa à direita, por outro lado, estava com janelas completamente abertas, e carecia de uma porta. Investigar ou entrar naquela casa também era outra opção, embora fosse bastante escura para ser ver muita coisa com aquela parca iluminação. Um cheiro desagradável, de decomposição, também seria a primeira coisa a se notar, caso se aproximasse mais desta casa.
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    Mensagem  Teeran The Bug Qua Dez 14, 2016 10:44 am

    Estranhamente, aquele cachecol pareceu se encaixar perfeitamente pelo seu corpo, contornando suas áreas mais sensíveis ao frio rigoroso. A alusão ao conto da Chapeuzinho vermelho realmente veio à sua mente naquele instante: Teeran desejou arduamente que não encontrasse nenhum Lobo Mau em seu caminho...

    Observando as casas à sua direita e esquerda, a morena parou seus passos para pensar brevemente em sua escolha. Já correu perigos antes, dentro do próprio trem, justamente porque seguiu um sinal o qual julgou ser livre de perigos - como o choro de uma criança ou um banquete recheado de comida. Uma casa com a luz parcamente acesa não significava haver alguém de bem ali. Porém, lhe parecia ser menos agressiva do que a outra, cujo odor pútrido adentrava em suas narinas com a mesma rapidez com que a morena pôs-se a caminhar novamente, seguindo para a casa da esquerda, com a luz fraca.

    Assim que parou à sua frente, Teeran olhou para os lados. Procurou observar pelas frestas da porta fora do eixo, afim de ver melhor o que havia ali dentro. Se arriscaria em entrar assim que tivesse certeza de que conseguiria sair.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Sáb Dez 17, 2016 7:01 am

    Pela fresta, Teeran veria uma cama no meio da sala, grande, feita da mesma madeira escura que as árvores lá de fora. Era bem trabalhada, esculpida com maestria, e discretas imperfeições denotariam a produção artesanal da mesma. Deitado na cama, um garotinho de uns 8 anos, pálido como a neve, estava coberto por grossas camadas de um cobertor de peles de algum animal selvagem da região. De cada lado da cama, um pequeno móvel era suporte para duas velas, as únicas fontes de luz presentes naquela casa. Havia uma pequena lareira aquecendo a casa, mas aparentemente só restavam brasas agora. A criança só não demonstrou estar morta pelo fato de ocasionalmente contorcer-se, de olhos fechados, amedrontada por alguma coisa, talvez um pesadelo.

    Sentada no canto da cama, uma mulher de 30 e poucos anos - possivelmente a mãe - abraçava uma senhora em seus 70, num choro silencioso, enquanto a velha procurava acalentá-la, acariciando-lhe os cabelos de forma gentil, mas a face inexpressiva de quem já passara por traumas demais em sua longa vida.Ao seu redor, mais 6 ou 7 pessoas estavam ali, de cabeça baixa, como num velório. Todos vestidos em roupas sóbrias em tons escuros, simples, roupas gastas de trabalhadores rurais. Uma menininha de uns 6 anos abraçada à perna de um homem barbudo olhava para cima, entristecida:

    "-Papai, por que o Bobby não quer levantar pra brincar?"


    A mãe soluçou, novamente afundando o rosto nos trajes da velha matrona. A idosa suspirou, gesticulando negativamente com a cabeça.

    "-Eu venho dizendo há tempos...que precisamos orar mais aos deuses da floresta. Essa é nossa punição..."

    O homem barbudo pareceu se irritar, grunhindo baixo. O corpo musculoso e mãos calejadas enrijeceram-se. Mas, contendo-se, simplesmente respondeu:

    "-Os deuses da floresta sempre foram perversos, talvez sua memória não esteja mais como antes. Deveríamos pegar machados e derrubá-la toda. Tirar o que lhes é precioso, assim como eles nos fazem!"

    Finalmente, eram pessoas com emoções de verdade, como Teeran! E apesar do breve desentendimento entre si, não pareciam ser más pessoas, tampouco parecia haver algum tipo de armadilha sombria ali. Conseguiria abrir a frágil porta sem problemas, e imediatamente se tornaria o centro das atenções.

    O homem barbudo pareceu um pouco mais desconfiado, os outros apenas curiosos ou indiferentes. A mãe na criança soltou a idosa e deitou-se na cama, abraçando o filho, tentando em vão protege-lo do que lhe assombrava. A idosa ofereceu um sorriso a Teeran, e se aproximou em passos lentos e decrépitos.

    "-Venha, criança, está frio aí fora. É uma viajante? como conseguiu chegar a este lugar tão afastado...?"
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    Mensagem  Teeran The Bug Qui Abr 13, 2017 6:14 pm

    Teeran observou a cena através da fresta na janela. Espantou-se em ver a quantidade de pessoas que havia ali dentro, como se estivessem se escondendo de algo aterrorizante. O sofrimento era palpável ali; a energia melancólica dominava o ambiente. Apesar de estar apreensiva, a garota esticou uma mão e abriu a porta. Seus olhos percorreram toda a sala, franzindo levemente o cenho para o garoto deitado e a mãe que o protegia.

    Assim que a senhora se aproximou, Teeran teve o impulso de se afastar. Estaria entrando em outro covil de monstros? Será que se transformariam em figuras macabras, como aconteceu naquele banquete?

    Não... ela já não estava mais naquele trem amaldiçoado. Um lapso de esperança preencheu seu coração e Teeran encarou a idosa.

    - Viajante? Sim... quem são vocês? Por que estão reunidos todos aqui dentro? Onde... onde estamos?


    Eram tantas perguntas, que Teeran simplesmente não sabia por onde começar. Aguardaria algumas respostas e mesmo não as tendo, já formulava mentalmente outras perguntas...
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Sex Abr 14, 2017 3:35 pm

    -Somos o povo do Vale, ou o que sobrou dele. Nossa vila vendia café e uvas para UOLCity, que fica a 12 horas a leste. Já tivemos tempos melhores, e mais gente vivendo aqui, mas... – a velha desviou o olhar para o chão, deixando um suspiro gelado no ar. O pequeno e enrugado sorriso deu lugar à uma feição inexpressiva, mas dolorosa assim mesmo.

    -Estamos fazendo a @%$!# de um aniversário. Não vê os balões, a musica, os presentes? – disse o barbudo com uma ironia agressiva, de 40 e poucos anos, praticamente já careca, salvos raros fios na cabeça. Era alto, robusto, a pele engrossada pela vida rural dura. Pegou um velho machado encostado no leito da cama, erguendo-o até o ombro da mão que o segurava, e em passos pesados marchou para fora dali, passando ao lado de Teeran com olhos desconfiados e hostis. De perto, estava claro o cheiro de álcool que emanava de seus trajes batidos. Lá fora, foi pisando fundo na neve, atolando-se até quase o joelho vários metros além, xingando mais.

    -Desculpe Balthazar....é o terceiro e ultimo filho dele, e os homens daqui não sabem expressar tão bem o que sentem. Deve estar cansada da viagem, a próxima cidade fica a várias horas daqui; quer descansar um pouco? Comer algo? Minha casa não fica longe daqui...- disse a velha, num novo esboço de sorriso. Parecia tentar amenizar um pouco a situação. As demais pessoas ali não exprimiam a mesma hostilidade, mas pareciam temerosas e arredias com a presença de Teeran. Pessoas amedrontadas.
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    Mensagem  Teeran The Bug Seg Abr 17, 2017 6:33 pm

    Ouvindo atentamente a história da velha, Teeran adentrou aos poucos a casa. As pessoas veriam ali uma garota em seus meados de vinte e quatro anos, no máximo; vestes escuras com um ar futurista, completamente diferente das demais encontradas ali na vila. A única similaridade seria o cenho franzido e desconfiado dela, os braços cruzados indicando distância e o semblante sério de quem já viveu mais do que a idade diz. Balthazar passaria ao seu lado e ela não lhe dirigiria uma só palavra, encarando-o com a mesma agressividade no olhar.

    - Doze horas de UolCity... então fiquei isso tudo de tempo naquele maldito trem...

    Disse mais para si mesma do que para qualquer outro naquela casa. Sua atenção se dirigiu para o garoto deitado. Com cautela, ela se aproximou e tocou a ponta de seus dedos no final do colchão.

    - O que houve com ele é o mesmo que assolou seus irmãos? O que houve, afinal?

    Ainda não confiaria em aceitar o convite daquela senhora. Depois de sua experiência traumática no trem, Teeran se tornaria uma pessoa ainda mais desconfiada que o seu natural.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Ter Abr 18, 2017 5:31 pm

    -Trem? mas...não temos ferrovias por perto...

    A velha disse, também mais para si do que para a garota. Levou a mao ao queixo, coçando um pouco uma barba rala e irregular, com apenas alguns fios grisalhos e grossos. A mãe continuava a abraçar o garoto, o rosto colado ao dele, e parecia sussurrar algo, uma voz abafada e tremula, desesperada. A anciã notou o silencio desconfiado dos demais, e novamente tomou a iniciativa, aproximando-se novamente.

    -É o mesmo que tem ocorrido com todos...existe algo na floresta que entra nos nossos sonhos, causando pesadelos horríveis...os pesadelos vão ficando cada vez piores, devorando toda alegria, a vontade de viver, ficam dormindo profundamente, e não acordam mais...acreditamos que no fim até a alma é devorada, pois em poucos dias quem é afetado acaba mor...

    -ELE NAO VAI MORRER! MEU BEBÊ NAO VAI MORRER! EU TENHO ORADO TODOS OS DIAS PARA OS DEUSES DA FLORESTA! - a mãe esbravejou, erguendo-se tempestivamente e apontando o indicador no rosto da anciã, que apenas suspirou, desviando o olhar. A menininha ao lado afastou-se, assustada com a reação da mãe.

    Teeran notaria quão frio era o pé daquela criança. Estava magro, branco, cadavérico...ainda respirava fracamente, se contorcia, gemia de olhos fechados, mas era quase como se já não houvesse mais vida ali. Gotas de suor frio brotavam frequentemente na testa da criança, que parecia agonizar numa febre gelada, uma tortura invisivel aos olhos.
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    Mensagem  Teeran The Bug Ter Abr 18, 2017 7:46 pm

    Teeran ouviu a história da velha imaginando os pesadelos e horrores vivenciados por aqueles que dormem naquela vila. Ela própria estava cansada, porém não cederia facilmente - não agora, sabendo de tais terrores noturnos. A garota também não havia reparado em trilhos de trens do lado de fora. Como, então, o trem em que ela estava se locomovia?

    O grito da mulher a assustou. Tanto, que ela deu um passo para trás, na defensiva. Teeran entendeu o motivo do grito, era tão claro quanto a neve ao lado de fora: o desespero e a aflição de ter seus filhos perdidos por uma causa aparentemente sobrenatural a fizera entrar em negação por completo. E nada, além da cura, a convenceria do contrário.

    - Existe algo que eu possa fazer para ajudar?

    Foi a primeira pergunta que veio à sua mente. Os pés gelados da criança causaram tremores na morena - não pelo frio em si, mas pela situação em que estavam. Teeran tentou cobri-los com o cobertor para ver se faria algum efeito.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Qua Abr 19, 2017 5:39 pm

    Os pés gelados ainda que cobertos se mantinham assim. Afinal, o aquecimento nao era imediato, sobretudo nos pés, e ainda por cima o frio que assolava a vila. Provavelmente demoraria bastante para esquentá-lo, sem outra fonte de calor ali. As pessoas ali pareciam apáticas, como se considerarem aquele esforço inutil; a criança já estava perdida, nos olhos de todos exceto a mãe e a irmã.

    Pouco a pouco os poucos habitantes começavam a sair dali, como se deixassem um velório infantil. A tristeza e desalento pareciam já encravados a muito tempo nos rostos emagrecidos daquelas pessoas, todas com profundas olheiras; provavelmente dormiam muito pouco. A velha suspirou.

    -Não há muito o que fazer...só podemos orar aos deuses da floresta e pedir por sua misericórdia. Eu estou indo à capela fazer isso, gostaria de me acompanhar?
    - a velha sorriu um pouco.

    Parecia tentar convencer Teeran a sair dali, para dar privacidade à mãe e evitar novos ataques de histeria. Mas ela tambem parecia compreendê-la, não queixando da hostilidade sofrida. A anciã burburinhou algo baixo, tocando os pés cobertos da criança, como se dissesse uma oração, e começava a se afastar rumo à saída daquela casa.
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    Mensagem  Teeran The Bug Qui Abr 20, 2017 4:31 pm

    O desalento naquela casa era praticamente palpável. Conforme as pessoas saíam lentamente, Teeran as observava com atenção. Se havia mesmo alguma doença que impedia os outros de dormirem, então isso explicava as olheiras. A garota não estava surpresa com a religiosidade intensa da senhora: nos corações mais doloridos existe o escape para um bem maior que trará o milagre da salvação. Apesar de não acreditar, Teeran respeitava isso.

    - Eu sinto muito.

    Disse, apenas, virando-se para a mãe da criança deitada. Abaixando a cabeça, ela concordou em acompanhar a senhora até a tal da capela. Apesar de não se sentir confortável e de ter inúmeras perguntas a fazer, Teeran se manteria paciente em respeito à dor dos outros.

    - Eu te acompanho, sim. Me diz... qual é o seu nome?

    Perguntou para a senhora, já saindo da casa.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Dom Abr 23, 2017 10:38 pm

    -Me chamo Iselda...sou a anciã da vila.E também algo como uma lider religiosa.Um titulo vazio quando se tem apenas 33 pessoas no lugar todo. Digo....32...

    A velha suspirou; provavelmente se referia à criança acamada. Estava claramente com os dias contados - e todos ali pareciam já saber do destino certo. A igreja não era longe. Na verdade, a vila era de tal forma pequena que provavelmente não levaria mais de 5 minutos para chegar de um ponto ao mais distante naquele lugar. A velha foi pisando na neve com calma; apesar da idade, era a mais "vívida" daquelas pessoas; parecia ainda reter algo de esperança e cordialidade, mesmo com estranhos.

    Andando pela estrada de pedras cinzentas, Teeran notaria o aspecto sombrio de tudo ali; não haviam cores; tudo era de um tom praticamente monocromático, em degradês de branco ao negro, carregadas de melancolia e abandono. Passariam por algumas casas de mesmo aspecto que aquela que saíram, escuras, mal iluminadas, feitas com cercas de estacas cravadas no chão. No percurso veria novamente a escola, o hospital e a capela/delegacia.

    A escola era rodeada por uma pequena mureta de pedras, até a altura da cintura, pintada com desenhos à mão feito por crianças. As figuras deformadas pela falta de técnica, somadas ao borramento pelo tempo e intempéries davam um aspecto sinistro aos desenhos, com pessoas demasiadamente longas, brancas, os olhos pintados do mais puro negro. O pequeno hospital era cercado por uma das unicas cercas de aço, retorcido, alto, com várias concavidades para dentro, como se algo tivesse tentado sair de dentro à força. Marcas avermelhadas no metal deixavam em duvida se tratava-se apenas de ferrugem ou alguma outra coisa. A igreja e delegacia faziam parte do mesmo edificio, aparentemente um edificio fora aproveitado para originar o outro, deixando à delegacia uma torre com sino como herança.

    A velha entrou na porta principal do edificio da delegacia/igreja, deixando-a aberta para que Teeran entrasse.

    Lá dentro, ela notaria que os bancos foram ordenados em torno de uma pequena sala no canto, que parecia ter sido previamente um confessionário; agora, um cassetete e algemas já bem velhos ficavam sobre uma bancada de madeira. Mas no fundo do edificio, contornando-se os bancos, o altar permanecia inalterado; uma grande estátua de madeira exibia uma figura do que parecia ser um anjo esculpido, embora as asas se assemelhassem às de borboleta. Parecia mais uma fada do que propriamente um anjo, e era provavelmente a figura de deidade que tinham como fé naquela vila.

    -Venha, ore comigo. Vamos pedir para que o pequeno Tim seja curado...


    A velha sorriu, e diante do altar, abaixou a cabeça, fechando os olhos. Deu uma olhadela de lado, como se mostrasse à Teeran como fazer, voltando a fechar os olhos logo a seguir.
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    Mensagem  Teeran The Bug Ter Abr 25, 2017 7:40 pm

    A curiosidade de Teeran aumentava a cada segundo conforme caminhavam lentamente pela vila abandonada. 33 pessoas apenas?! Como aquela vila sobrevivia naquele inverno rigoroso? E por que ninguém saía de lá e buscava uma nova vida em UolCity ou em alguma outra vila mais próxima?

    - Prazer, Iselda... eu sou Teeran. Por favor, me explique... por que não saem da vila? E... o que aconteceu por aqui?

    Perguntou, observando a cerca de aço retorcido do hospital. Temerosa sobre o que havia ali dentro, a garota decidiu acompanhar o passo de Iselda com o corpo mais próximo. Assim que chegaram ao edifício que se dividia entre delegacia e igreja, Teeran parou por um instante para observar os arredores. Aquele local parecia ser mais um abandonado até mesmo pelos mais devotos...

    Teeran franziu o cenho ao pedido de oração da senhora. Fechar os olhos e orar para uma imagem a qual ela não fazia ideia de quem se tratava não estava em seus planos - contudo, a garota sabia que seria altamente desrespeitoso se não o fizesse. Se não ao menos fingisse.

    Sendo assim, ela fechou os olhos e tudo que veio à sua cabeça, naquele instante, eram as inúmeras perguntas que rodeavam sua mente, o frio no ambiente e o cansaço que surgia em uma má hora.
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    Mensagem  Tetsuya Kitsune Qua Abr 26, 2017 4:50 pm

    -A floresta morta tomou conta de todas as saídas possíveis...e do outro lado, apenas um precipicio. Muitos tentaram sair, mas... - e calou-se, como se aquilo lhe atormentasse, fechando os olhos com certa força. A escuridão daquela vila, somada à neve e as casas desoladas realmente não contribuiam muito para a imaginação de Teeran sobre o que ocorrera com os que tentaram sair dali. A mulher tentou continuar a falar, mas parecia engasgar para não chorar. Simplesmente fechou os olhos, e voltou a orar, fervorosamente. Provavelmente para essas pessoas.

    A igreja/delegacia também era um tanto sinistra; além dos bancos e da estátua, tudo mais parecia estar em péssimo estado de conservação. Teias de aranha brigavam entre si e contra a poeira que desmanchava-as nos cantos mais escuros. Apenas velas já bem derretidas, grossas, iluminavam os entornos dos bancos e a estátua. Atrás dela, Teeran veria um corredor escuro, que conduzia ao que parecia ser uma escada metálica em espiral, para o alto da torre do sino da igreja.

    Quando Teeran fechou os olhos diante da estátua, escutaria um ruído bizarro, como algo metálico rangendo, arranhando, vindo dos fundos dali, em direção ao alto da torre. o corpo da garota parecia paralisado, pesado, as palpebras coladas. O ranger foi aumentando em volume gradativamente, até que finalmente cessou, permitindo que a garota reabrisse os olhos e se movesse novamente. Os sinos da igreja misteriosamente começaram a tocar.



    A velha ao lado também abriu os olhos, e olhou ao redor, como se procurasse por algo. Ao contrário de Teeran, parecia não ser a primeira vez que ouvia aquilo.

    -Ah, querida...as fadas da floresta vêm à vila. Elas querem que oremos aos antigos deuses da floresta, mas as pessoas insistem em orar para novos e falsos deuses. Não tema, você está protegida...apenas os infiéis e hereges devem temer...

    Ela sorria calmamente, segura. Parecia realmente devota e de boa índole, e parecia mais tranquila ao ver a garota que supostamente rezara junto a ela. Mas essas tais fadas...o que seriam afinal? e seriam reais?

    -Você deve estar cansada e com fome. Pode ficar comigo em minha casa, se quiser. Também existem muitas casas vazias, caso prefira dormir com mais privacidade...

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