Tetsuya ouvia o que a outra raposa dizia, e novamente os olhos semicerraram. Parecia bem mais sério, adulto talvez quando ela lhe dizia o fracasso de seu disfarce. Ele próprio curiosamente não parecia conhecer os principios da propria raça, mas pareceu se dar conta que Yumi com certeza nao era uma demonesa qualquer, como varias daquela boate.
-Mas como você...E antes que tivesse tempo para perguntar-lhe mais, o chines se aproximava,e era obrigado a improvisar. "Pelo menos ela não é um deles", ele pensava.
....
Agarrada às costas da loira, Artemia sentiria novamente o toque macio daquelas caudas que a nao muito tempo deslizavam-se de baixo para cima em todo seu corpo...parecia despertar-lhe uma "memória tátil", e aquelas ondas e arrepios provavelmente lhe percorreriam o corpo novamente. A raposa travava imediatamente, conforme via a atuação da ruiva. Sussurrou baixo, com o canto da boca:
-V-voce está fora de s-si...o que está fazendo!?E antes que pudesse repreende-la mais, ouvia o que ela lhe dizia. "Ir junto aonde fosse", o que aquilo significava afinal!?! o rosto corava ainda mais, e aquilo fazia o chines se empolgar ainda mais, que se aproximou, dando um "tapa" lateral nas nádegas da loira, fazendo-a dar um pulinho. Artemia ouviria um rosnado baixo de Tets, e alguns discretos flocos de gelo dourados se formariam ao redor da raposa. O brilho poderia facilmente ser confundido com reflexo das luzes, mas...provavelmente chamariam a atenção de Yumi.
Provavelmente a raposa já vira algumas variações de magias de gelo; nao era raro Fuyu criar estruturas enormes de gelo negro no 5o círculo - uma espécie de gelo demoniaco ainda mais gelado e resistente que o habitual - ou ainda o Gelo Eterno, uma variação do gelo que continuamente sugava o calor, sem jamais derreter. Mas aquele dourado era algo completamente diferente. Quem sabe nao estivesse escondendo cartas na manga pra nao chamar atenção? Afinal, nao fazia sentido alguem com 9 caudas ter uma aura com uma energia demoniaca praticamente equivalente ao dela, com 5. Então talvez estivesse aguardando o momento certo, como uma astuta raposa faria?
-De fato, caríssimo reploid. O sr.Carmiglioni ficará muito contente com o que achou...melhor do que a maioria dessas meninas que só abaixam a cabeça, veja como se agarram! Parecem loucas para se esfregar o dia inteiro! Tenho certeza que receberá aquele....chip, virus, o que seja, que todos voces parecem estar loucos para porem as mãos. Esse barman? ele simplesmente vai pagar as dividas dele, HOJE. E vai aprender o que acontece com esquentadinhos que nao sabem a que lugar pertencem na cadeia alimentar...O chines dizia, se afastando de ambas. Olhava a propria mão que acertara as nadegas de Tetsuya; a palma estava vermelha, parecia nao senti-la direito. As extremidades dos dedos estavam geladas...como se sofressem de um "frostbite", uma espécie de congelamento comum em extremidades corporais, que quase sempre terminavam com amputação do membro. Mas nao devia ser aquilo; afinal geralmente precisaria ficar muito tempo no frio para isso acontecer! E como o congelamento fora muito subito, ele sequer sentira dor; a inervação estava completamente anestesiada. Aquilo era um mal sinal; o chines poderia reagir logo ao notar que Tetsuya congelara-lhe a mao durante o tapa. Mas antes que pudesse se distrair mais, Yumi começava a fugir! Rapidamente esqueceu de sua mão insensivel, e gritou alto para os seguranças do lugar.
-ELA ESTÁ FUGINDO! PEGUEM A RAPO...Antes que terminasse a frase, um som de um disparo. O reploid com quem Axle conversara antes apontara o canhão de suas costas na direção da raposa, disparando uma espécie de rede de energia, amarelada, com uma pequena carga elétrica que faria Yumi contrair cada musculo do corpo repentinamente, atordoando-a um pouco. Nao ao ponto de desmaiar a garota, mas o bastante para deixa-la muito zonza, nauseada e confusa. Parecia ser do tipo militar, alto, robusto, pintado em cores camufladas, com uma espécie de lança-granadas nas costas. Rapidamente puxou a rede, pisando em passos confiantes na direção do chinês, sorrindo para Axle.
-Aqui, júnior, está perdendo sua presa. Uma lição que você deve aprender, sempre carregue sua carga com segurança para nao perdê-la. Nao precisa me agradecer!O reploid mercenario dizia a Axle, com o mesmo ar de arrogancia superior de antes.O chines pareceu aliviado.
-E nem você, cachorrinha. Pode nao acreditar, mas eu acabei de te salvar ao te prender aí; coisa pior acontece com que foge...O reploid dizia à Yumi, que talvez nao conseguiria compreende-lo direito, pelo atordoamento. O chines começou a andar na direção das grandes portas de madeira nos fundos, onde os seguranças recuariam. Parecia massagear a mão, sem entender ainda o que acontecia a ela.
-Muito bem, estamos perdendo tempo, e o sr. Carmilgioni é impaciente. Vamos!E antes que todos pudessem se preparar devidamente, o grupo marchou porta adentro...os seguranças carregando o barman pelos ombros, o reploid atrás com a rede com Yumi, a ruiva e a loira ali no meio obrigadas a seguirem caminho, e Axle na frente delas.
O raposo via tudo o que o reploid fazia a Yumi e pensou em reagir e acabar de congelar o infeliz chines, mas...ainda nao era a hora. Percebeu que a raposa nao fora realmente ferida como imaginou, o que lhe acalmou um pouco. Para Axle, aquilo talvez fosse um sinal que puxara ao pais mais do que ele proprio imaginara; Artemia poderia ver o gesto talvez como uma forma de interesse dele pela raposa, mas...quem nao ficaria preocupado com ela, ao ver pelo que passava?
...
As portas de madeira se fechariam atrás, revelando um cenário que destoava completamente da miséria externa da boate. Jarros ming carissimos se distribuiam pelo ambiente, contendo barras de ouro e várias jóias dispostas de qualquer jeito, pelo simples prazer de serem exibidas. Enormes lustres de cristal e ouro traziam ainda mais um ambiente excessivamente rico ao ambiente. Mesinhas, cadeiras de ouro eram distribuidas proximo ao centro do lugar, provavelmente para convidados se sentarem. Pilastras de marmore branco decoravam o ambiente junto às paredes, enquanto candelabros de ouro complementavam a riqueza do tapete e cortinas vermelhas, além do enorme trono onde uma criatura humanóide extremamente obesa e pálida se sentava. Uma calça e paletó pretos haviam sido adaptados ao ser corpulento que nela sentava, mas a gordura criava incontáveis dobras que caiam pelos lados e pés, praticamente fundindo-o ao trono e ao chão.
Enormes anéis de ouro adornavam-lhe os dedos, e um chapéu preto estilo Fedora parecia minusculamente ridiculo em sua enorme cabeça. Fazia o clássico estilo "poderoso chefão", mas sem o charme da máfia, e com a grotesquidade de mais de meia tonelada de gordura.
Ao lado daquele vampiro gordo, pelo menos uns 20 vampiros seguranças mantinham-se imóveis, observando uma pobre e jovem demonesa, com asas de morcego sobre as orelhas, enfiando a mão na região da virilha do gordo. Seu braço praticamente afundava entre os pneus de gordura e, magra como estava, nao parecia estar conseguindo "achar" nada ali, que deixava o gordo extremamente irritado. O enorme vampiro pegou a garota pela cabeça e gritou.
-FIGLIA DI UNA CAGNA, JA ESTÁ A MEIA HORA AÍ PARA NADA!! VATTE FUDERE!! CRIATURA INUTIL COMO AS OUTRAS!!O sotaque italiano era pesadíssimo como ele próprio. A garota arregalava os olhos, tremula, tentando soltar-se da mão pesada que segurava-lhe a cabeça e...os olhos eram arremessados para fora da cabeça frágil, conforme seu cranio era esmagado como papel na mão do gordo, jogando sangue e massa cefálica pelo lugar. O gordo soltou o corpo inerte da demonesa ali no chão, e prontamente os seguranças tratavam de retirar os pedaços que restaram da garota.
O chines acompanhado de Axle e os demais se aproximavam.
-Sr.Carmiglioni, desculpe interrompe-lo. Tenho uma boa e uma má notícia. Comecemos pela má: temos um barman extremamente mal-educado que não sabe seu lugar e precisa de correção, e uma raposa que tentou fugir sem ter sua bênção.Os seguranças soltavam e empurravam o barman para frente. O reploid simplesmente arremessava a rede com a raposa dentro para o lado de Jasor. A rede de energia se desfazia, deixando a raposinha com a bolsa na boca ali jogada de qualquer jeito. Logo, o reploid se retirava do local, fazendo um gesto de "nao precisa agradecer" a Axle.
-E este magnifico reploid lhe trouxe o que procurava: uma belissima raposa loira e uma fogosa ruiva, pervertidas como jamais vi antes nesse lugar, loucas para se esfregarem com o sr., eu acredito!O vampiro gordo tinha suas mãos ensanguentadas limpas por um segurança, que segurava e limpava com cuidado com um lenço impecavelmente branco. Carmiglioni roncou como um porco, e sorriu, estendendo a mão na direção das cadeiras de ouro para que se sentassem. As cadeiras por sua vez estavam a apenas alguns metros de Jasor e Yumi, dispostas radialmente em torno do mafioso, que olhava-o tanto quanto olhava Jasor e Yumi. Percorreu os olhos perversos sobre Tetsuya e Artemia, passando a lingua pelos dentes caninos pontiagudos, numa fracassada tentativa de parecer sedutor.
Tetsuya que ate entao seguia passivamente para dentro do lugar, dilatava as pupilas ao ver a crueldade com que o vampiro destruia a cabeça daquela infeliz demonesa. As caudas eriçavam-se, e quase como reflexo abraçava Artemia com força, como se tentasse esconde-la entre os braços, protege-la de ver a cena, proteger de tudo aquilo. Naquele momento a vergonha se dissipava, o corpo estremecia de ódio, mas ainda assim parecia engolir e interiorizar tudo aquilo. A forma como Yumi e o barman - que mesmo relativamente desconhecidos - eram tratados aumentavam-lhe ainda mais o ódio por aquela criatura gorda, ignorando o olhar lascivo daquela criatura. "logo a punição divina cairá sobre você", ele pensava.
-Onrk...cuidaremos de tudo logo, assim que esses imprestáveis limparem esse lugar. Odeio toda essa sujeira imunda... - referindo-se aos restos deixados pela demonesa morta.
-C-como quiser, sr. Carmiglioni. Venham à sala de espera, logo serão convocados. VOCÊS DOIS TAMBÉM! - o chines se referia a Jasor e Yumi. E apontava na direção de uma das portas laterais, tambem de madeira, a poucos metros dali, para que esperassem até a sala ser limpa.